Tá tudo dominado na Líbia… o que a velha mídia não revela


Invasão imperialista da Líbia

COMEÇA O SAQUE

Estão reunidos em Paris, em reunião de cúpula convocada por Sarkozy & Cameron, os países que participaram da agressão contra a Líbia. Consideram eles que chegou o momento de repartir os despojos. E cada um quer garantir seu naco o mais depressa possível, antes que o vizinho o tome. Falam em “ajuda” ao país africano, mas o que querem é saqueá-lo – inclusive os ativos do seu Banco Central e do seu Fundo Soberano congelados no estrangeiro. Além do petróleo, claro.

O Chefe de Redação

O CAPITALISMO DO DESASTRE SE LANÇA SOBRE A LÍBIA

Por Pepe Escobar *

Pense da nova Líbia como o capítulo mais recente da série “Capitalismo do Desastre”. Ao invés de armas de destruição em massa, temos a R2P (“responsibility to protect”). Ao invés de neoconservadores, temos imperialistas humanitários.

Mas o objetivo é o mesmo: mudança de regime. E o projeto é o mesmo: desmantelar e privatizar completamente uma nação que não estava integrada no turbo-capitalismo; abrir uma outra (lucrativa) terra de oportunidade para o neoliberalismo com turbo-propulsor.

A coisa toda é especialmente conveniente porque é um empurrão em meio a uma recessão quase global.

Levará algum tempo, o petróleo líbio não retornará totalmente ao mercado nos próximos 18 meses. Mas há a reconstrução de tudo o que a OTAN bombardeou (bem, não muito do que o Pentágono bombardeou em 2003 foi reconstruído no Iraque…)

Seja como for – desde o petróleo à reconstrução – em tese se somam oportunidades de negócio sumarentas. O neo-napoleônico Nicolas Sarkozy, da França, e o britânico David das Arábias Cameron acreditam que estarão especialmente bem posicionados para lucrar com a vitória da OTAN. Mas não há garantia que a nova fonte de riqueza líbia seja suficiente para erguer as duas antigas potências coloniais (neo-coloniais?) acima da recessão.

O presidente Sarkozy em particular extrairá as oportunidades de negócios para companhias francesas por tudo que elas valem – parte da sua ambiciosa agenda de “reposicionamento estratégico” da França no mundo árabe. A complacente e exultante mídia francesa diz que esta foi a “sua” guerra – fiando-se em que ela foi decidida no terreno com armamento francês, em estreita cooperação com o Qatar.

Bem, ele certamente viu a oportunidade quando o chefe do protocolo de Muamar Kadafi desertou para Paris em outubro de 2010. Foi quando o drama da mudança total de regime começou a ser incubado.

BOMBAS POR PETRÓLEO

Os abutres já estão a circular sobre Trípoli para agarrar (e monopolizar) os despojos. E, sim, a maior parte da ação tem a ver com negócios de petróleo, como se verifica nesta clara afirmação de Abdeljalil Mayouf, gestor de informação na “rebelde” Arabian Gulf Oil Company: “Nós não temos problemas com países ocidentais como as companhias italianas, francesas e britânicas. Mas podemos ter algumas questões políticas com a Rússia, a China e o Brasil”.

Acontece que estes três últimos são membros cruciais do grupo BRICS de economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), as quais realmente crescem enquanto as economias ocidentais que fazem os bombardeios da OTAN estão ou encravadas na estagnação ou em recessão.

Os quatro principais BRICS também se abstiveram de aprovar a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, a fraude da zona de interdição de voo (no-fly) que se metamorfoseou na mudança de regime conduzida pela OTAN. Eles enxergaram corretamente desde o princípio.

Para tornar as coisas piores (para eles), apenas três dias antes de o Pentágono lançar seus primeiros 150 mísseis Tomahawks sobre a Líbia, o coronel Kadafi deu uma entrevista à TV alemã enfatizando que se o país fosse atacado, todos os contratos de energia seriam transferidos para companhias russas, indianas e chinesas.

Assim, os vencedores da mina petrolífera já estão designados: membros da OTAN mais monarquias árabes. Dentre as companhias envolvidas, a British Petroleum (BP), a Total da França e a companhia nacional de petróleo do Qatar.

Para o Qatar – o qual despachou caças a jato e recrutadores para as linhas de frente, treinou “rebeldes” em técnicas de combate exaustivas e já administra vendas de petróleo na Líbia oriental – a guerra se revelou uma decisão de investimento muito sábia.

Antes dos longos meses da crise, que agora está na sua etapa final com os rebeldes na capital, a Líbia produzia 1,6 milhão de barris por dia.

Uma vez retomada a produção, os novos dominadores de Trípoli colheriam uns US$ 50 bilhões por ano. A maior parte das estimativas estabelece as reservas de petróleo da Líbia em 46,4 bilhões de barris.

O ‘PERIGO’ CHINÊS

Os “rebeldes” da nova Líbia devem ter consciência de que é melhor não se meter com a China. Cinco meses atrás, a política oficial da China já era apelar a um cessar-fogo. Se isto tivesse acontecido, Kadafi ainda controlaria mais da metade da Líbia. Mas Pequim – que nunca foi adepta de mudanças de regime violentas – por enquanto exerce extrema contenção. Por quanto tempo?

Wen Zhong Liang, o vice-ministro do Comércio, observou deliberadamente: “A Líbia continuará a proteger os interesses e direitos de investidores chineses e esperamos continuar o investimento e a cooperação económica”. Numerosas declarações oficiais enfatizam a “cooperação econômica mútua”.

Na semana passada, Abdel Hafiz Ghoga, vice-presidente do duvidoso Conselho Nacional de Transição (CNT), disse à agência chinesa Xinhua que todos os negócios e contratos efetuados com o regime Kadafi seriam honrados – mas Pequim não quer correr riscos.

A Líbia forneceu mais de 3% das importações de petróleo da China em 2010. Angola é um fornecedor muito mais crucial. Mas a China ainda é o principal cliente da Líbia na Ásia.

Além disso, a China poderia ser muito útil quanto à reconstrução da infraestrutura, ou na exportação de tecnologia – não menos de 75 companhias chinesas com 36 mil empregados estavam já no terreno antes de estalar a guerra tribal/civil, rapidamente evacuados em menos de três dias.

Os russos – da Gazprom à Tafnet – tinham bilhões de dólares investidos em projetos líbios. A gigante petrolífera brasileira Petrobrás e a companhia de construção Odebrecht também têm interesses ali. Ainda não está claro o que lhes acontecerá.

O diretor-geral do Russia-Libya Business Council, Aram Shegunts, está extremamente preocupado: “Nossas companhias perderão tudo porque a OTAN as impedirá de fazerem negócios na Líbia”.

A Itália parece ter aprovado a versão “rebelde” do “você ou está conosco ou contra nós”. O gigante da energia ENI aparentemente não será afetado, pois o primeiro-ministro Silvio “Bunga Bunga” Berlusconi pragmaticamente jogou fora o seu anterior relacionamento muito estreito com Kadafi, no princípio da profusão de bombardeios da OTAN.

Diretores da ENI estão confiantes em que os fluxos de petróleo e gás da Líbia para o sul da Itália serão retomados antes do Inverno. E o embaixador líbio na Itália, Hafed Gaddur, reassegurou a Roma que todos os contratos da era Kadafi serão honrados.

BIN LADEN

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Ahmet Davutoglu – da conhecida política “zero problemas com nossos vizinhos” – também louva os antigos “rebeldes” transformados em detentores do poder.

Observando também as possibilidades de negócios pós Kadafi, Ancara – como flanco oriental da OTAN – acabou por ajudar a impor um bloqueio naval ao regime de Kadafi, cultivou cuidadosamente o CNT e, em julho, reconheceu-o formalmente como o governo da Líbia. Os “prêmios” do negócio assomam.

E há ainda a questão crucial: a Arábia Saudita vai lucrar por ter sido instrumental em estabelecer um regime amistoso na Líbia. Uma das razões chave para o violento ataque saudita – o qual incluiu um voto falsificado na Liga Árabe – foi o rancor extremo entre Kadafi e o rei Abdullah desde os preparativos para guerra ao Iraque em 2002.

Nunca é demais enfatizar a hipocrisia cósmica de uma monarquia/teocracia medieval – a qual invadiu o Bahrein e reprimiu seus xiitas nativos – que saúda o que podia ser interpretado como um movimento pró-democracia na África do Norte.

Seja como for, é tempo de festa. Aguarda-se o saudita Bin Laden Group para reconstruir tudo por toda a Líbia – eventualmente transformando o saqueado Bab al-Aziziyah (quartel general de Kadafi) num monstruoso e luxuoso Centro Comercial Tripolitania.

* No Resistir, com charge de Vicman

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O Chefe de Redação


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