Quando a Ciência subverte as escalas de valores humanos

QUEM PODE MEDIR NOSSOS SENTIMENTOS?

Invocado ou não, Deus está presente

Vocatus atque non vocatus, Deus aderit – “Invocado ou não, Deus está presente”.

Quando Galileu Galilei deu qualidades primárias às coisas – as que podiam ser mensuradas, medidas, pesadas – a estas chamou-as de grandezas objetivas.

E aquelas que não podiam, como bonito, feio, alegre, triste – as adjetivas ou intangíveis -, ao invés de desprezá-las, chamou-as de grandezas subjetivas.

Foi terrivelmente mal interpretado e, até hoje, a madrasta ciência subverte estas escalas de valores.

Veja: não são os sentimentos – como o amor, o perdão, a graça e a misericórdia, apenas para citar uns poucos – que nos caracterizam profundamente como seres humanos?

Então para alguns, por não ser possível mensurá-los com o instrumental da ciência, eles devem perder a sua importância ou o seu sentido?

A física clássica – de Descartes, Newton, Faraday, Rutherford, Franklin – nos dotou de instrumentos mil, que possibilitam medir coisas pequenas com o paquímetro e, com poderosos telescópios gigantes, as estrelas.

Isto quando medimos a matéria, a partir do seu núcleo básico – o átomo, de dentro para fora.

Mas, quando precisamos medi-lo de fora para dentro, ou seja, em direção ao “nível subatômico”, não há equipamento possível de estabelecer parâmetros “científicos” comprováveis pela repetição.

E por quê? Porque à medida que nos aproximamos do objeto observado, este interage com o olho do observador e passa a trocar elétrons – uma descoberta gigantesca, verdadeiro marco teórico no caminhar do homem rumo ao desconhecido.

Isto nos revela que o homem, com a sua consciência de que tem uma consciência, resgatou para si, via física subatômica ou quântica, a sua dignidade como co-criador de “sua realidade” e criador do seu próprio futuro.

O GREGO E O LATIM

Hoje sabemos que a consciência humana consegue, inclusive, alterar até mesmo as propriedades da matéria. Então, não pode ser verdade que tem valor para a ciência apenas “as grandezas mensuráveis – as objetivas”.

Ao contrário, o que não se vê é que é o mais importante. Seria então este o motivo de Cristo ter dito a Tomé: não sejas incrédulo, mas crente; enxergue não só com os olhos da face, mas também com os olhos do espírito, olhos da alma!

Mas, considera-se hoje, que a maior de todas as desgraças que se abateu sobre a nobre ciência, foi o fato de deixar de ser escrita nas línguas clássicas, como o grego ou o latim.

Estas línguas, pelas suas riquezas semânticas, permitiam o livre pensar e expressar com vigor os pensamentos dos homens verdadeiramente dignos da nossa admiração e louvor.

A ciência que se escrevia em latim criou, ao redor do mundo, um público diferenciado e que se comunicava livremente entre os que escreviam e os que lhes liam, formando-se assim, em todo mundo, o clima propício para que o gênio humano se expressasse em todo o seu esplendor.

Hoje nós temos no mundo uma variedade tão grande de traduções em línguas e dialetos usados para expressar o pensamento humano, que ficamos perdidos numa infernal barafunda linguística.

E mesmo os “especialistas” das diversas áreas das ciências não conseguem se comunicar sem grandes dificuldades.

Chegamos então ao ponto hilário em que todos nós que vivemos ou fazemos da ciência a nossa forma de ganhar a vida, nos tornamos “ignorantes especializados” que vendem seus conhecimentos aos “ignorantes generalizados”, aos intermediários da massa, do grande público.

Lo fece natura e poi rupple lo stampo – “A natureza o fez e depois perdeu o seu molde”.

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Por Jolival Soares – Bioquímico e professor de Bioética

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