O ‘hoax’ de Chico e Caetano como se fossem do Black Bloc

INOCENTES ÚTEIS CAÍRAM NA MANIPULAÇÃO

Caetano e Chico de máscara

Particularmente não temos nada contra o conceito Black Bloc, mas a manipulação lembra o famoso hoax das tartarugas, que nós ajudamos a desmistificar, em que o MST era acusado de roubar ovos dos ninhos na margem esquerda do Rio Solimões. Quantos não haviam repassado tamanha bobagem para frente?

Agora muita gente boa — ah, os inocentes úteis… — caiu de novo no conto do vigário, acreditando no que viu no Facebook: uma foto de Chico Buarque, com parte do rosto coberto, no que seria um apoio ao movimento Black Bloc.

Trata-se de um tremendo engano — ou má fé mesmo — de quem começou a espalhar a história dessa forma porque a foto, na verdade, é um registro de João Wainer feito em Budapeste.

O fotógrafo explicou o contexto da imagem: “Eu estava em Budapeste, filmando com ele, fazia um frio desgraçado, tipo 20° abaixo de zero, e precisava de uma foto pra capa do DVD. Então a foto surgiu naturalmente, brinquei que essa seria uma boa capa… acabou não indo pro DVD, mas acabou emplacando a capa da revista Trip uns meses depois.”

Nos últimos dias, circularam também fotos de Caetano Veloso posando como Black Bloc.

A imagem de Caetano foi um registro feito no apartamento do Fora do Eixo no Rio de Janeiro (sede do Midia Ninja na cidade) em meio a um episódio que o próprio artista explicou.

“Me pediram para posar com uma camiseta preta atada ao rosto para eles mostrarem à Emma [moça que apareceu como black bloc em uma capa da Veja], que, segundo eles, gostou do meu texto sobre ela. Agora vejo aqui que puseram a foto na rede…”.

E o artista baiano também garante que não é anticapitalista — uma das bandeiras do movimento.

Este episódio do “apoio” dos artistas ao Black Bloc é o mais novo exemplo de que:

1) O Facebook tem muito, mas MUITO mais poder do que deveria. Além das milhões de pessoas alcançadas na própria rede, veículos da mídia tradicional se pautam pelo site de Mark Zuckerberg sem pensar duas vezes;

2) Não se deve acreditar em tudo o que vê no FB. Não mesmo. Todos somos produtores de conteúdo e, ok, isso é ótimo. De verdade. Mas com isso vem alguma responsabilidade. Cada “like” ou “compartilhar” tem algum alcance e influência, por menor que seja a nossa rede de “amigos” virtuais. Pense duas, três, dez vezes antes de acreditar naquilo que viu. Mesmo que tenha sido postado por um parente, um amigo do peito ou por um grupo “bacana”;

3) Em casos assim, sempre tem alguém ou algum grupo que se beneficia. Conceitos como “criação de narrativas”, “guerra de memes” ou “disputa de versões” soam bem e são supostamente modernos. Só que, na prática, não raro a realidade fica em segundo plano. Fotos e historinhas bem escritas, tendo ou não suporte na vida real, alcançam rapidamente milhares de pessoas e são criadas deliberadamente para te manipular. Abra o olho.

Com Lino Bocchini

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