Galvão Bueno troca as corridas de F1 pela pancadaria na TV Globo


Charge - Galvão Bueno

GALVÃO POUSA NO OCTÓGONO

Do blog HotGaragem

A rede Globo de televisão elegeu outra mania brasileira, trocando apenas as manhãs de domingo pelas noites de sábado. A nova ‘paixão’ é o UFC, essa pancadaria desenfreada que estimula a molecada a lutar jiu-jitsu e sair pelas ruas espancando gays, pobres, negros, nordestinos, tudo revestido com um ar profissional e chique. Por quê? Para que a vinhetinha ‘Brasil-sil-sil’ possa ser executada à exaustão e a plebe rude se sinta a mais vitoriosa do planeta.

PERDEMOS, PLAYBOY

por Flavio Gomes *

Os mais astutos devem ter notado que Galvão Bueno não narrou o treino de classificação de Abu Dhabi e nem a corrida pela Globo. Não é a primeira vez, claro. Isso já aconteceu muitas vezes quando o locutor oficial foi escalado para algum outro evento importante, como jogos da seleção brasileira, finais de Copa do Mundo, competições em Olimpíadas, talvez nos Jogos Pan-americanos do Rio de 2007.

Mas, neste fim de semana, não. Não é futebol, Olimpíada, vôlei. Galvão ficou por conta da narração de uma luta de MMA. Ou UFC. Não sei direito. E, por isso, ficou fora da F-1 no sábado e no domingo.

Isso tem enorme significado. Considerações sobre Galvão à parte — há os que gostam, os que não gostam, os que não suportam, os que amam, isso não importa —, a escalação do principal narrador da maior emissora de TV do país para fazer uma luta em vez de uma corrida significa que a F-1 morreu.

Isso mesmo, camaradas: morreu. A Globo é pautada pela babaquice geral das cabeças que se acham pensantes em sua direção. Algum gênio, em algum dia no passado, decretou que esporte bom é esporte que tem brasileiro ganhando.

Graças a tal dogma estabelecido, imutável, pétreo, ganhamos, nas manhãs de domingo, campeonatos mundiais de futebol de areia, torneios interplanetários de peteca na praia, desafios internacionais de futebol de salão, competições de natação em rios amazônicos e provas de pedestrianismo em Belo Horizonte criados e elaborados com um único objetivo: para que atletas e/ou times brasileiros vençam, para que a vinhetinha Brasil-sil-sil possa ser executada à exaustão, para que a patuleia, por volta do meio-dia, se sinta a mais vitoriosa do planeta e possa mandar servir o espaguete e abrir a brahma.

Ayrton Senna se prestou muito bem a esse papel durante anos, e não é por acaso que a Globo sempre o amou de paixão. Mas morreu, e os que vieram depois dele não conseguiram grande coisa. Daí o nascimento dessas patetadas que durante algum tempo foram chamados até de Jogos Mundiais de Verão.

Massa esboçou alegrar nossas manhãs de domingo Brasil-sil-sil em 2008, mas já ficou claro que não é ele o cara, assim como não foi Barrichello e, lamento, Bruno pode carregar o sobrenome, o capacete e o preto e o dourado, mas será no máximo um piloto para compor grid durante algum tempo, enquanto houver quem o patrocine e quem lhe ofereça um carro.

Daí que a Globo elegeu a nova paixão brasileira, trocando apenas as manhãs de domingo pelas noites de sábado, e essa nova paixão — agradeçamos nossos guias! — é esta merda de luta livre, essa pancadaria desenfreada que estimula a molecada a lutar jiu-jítsu e sair pelas ruas espancando gays, pobres, negros, nordestinos, tudo revestido com um ar profissional e chique, feérico, luminoso, “ultimate”, “fighting”, palavras em inglês, combates em ginásios, gente de smoking na plateia, uma releitura cafona e caricata do que foi o boxe em algum lugar do passado, boxe devidamente morto e enterrado pelo MMA, uma sigla que significa algo como artes marciais múltiplas, sei lá se é isso.

Arte é o cacete, briga não é arte, assim como o boxe nunca foi a “nobre arte”, como diziam os antigos, embora, diante desse vale-tudo de cotoveladas e chutes na cara, o boxe pareça mesmo uma arte — praticada, diga-se, por personagens muito, mas muito mais interessantes que esses tontos que se fingem de inteligentes e lutam num negócio chamado octógono.

Galvão narra a luta de UFC hoje (ou luta de MMA? Afinal, qual é o esporte, UFC ou MMA? Puta bosta, isso), com elogios rasgados à modalidade, ao seu crescimento, à sua popularidade, ao dinheiro que movimenta, ao profissionalismo, à idolatria pelos lutadores, aos incríveis brasileiros que dominam o octógono e nem podem andar na rua sem dar autógrafos, que são celebridades, que são demais, Brasil-sil-sil, salve a família Gracie, e a luta presente nas TVs dos bares e dos lares, e os melhores momentos estarão no “Fantástico” e no “Jornal Nacional”, além de todos os programas de esportes da emissora que falam dessa luta há dias, e vamos virar a pátria do MMA e do UFC, como se já não houvesse violência bastante por aí para dispensar porradas na cara, dentes quebrados, sangue jorrando, gente urrando em horário nobre, para milhões, milhões de telespectadores retardados que acham legal tudo que a Globo coloca no ar.

Não sei nem quem lutou. Minotauro? Touro Sentado? Fantomas? O Poderoso Hulk? Ted Boy Marino? Electra? Aquiles, o Matador? Barba Negra? Verdugo? Múmia? Tigre Paraguaio?

Minotauro, vá lá. Faz algum sentido. Mas os lutadores agora têm nome e sobrenome e são levados a sério.

Até nisso o telecatch era melhor. Ninguém levava porra nenhuma a sério.

O mundo acabou, bebê.

* No WarmUp

* * *

Blog Hot Garagem


3 comentários em “Galvão Bueno troca as corridas de F1 pela pancadaria na TV Globo

  • 21 de novembro de 2011 em 11:37
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    alguém já se vendeu hoje!?
    pois, o galvão deve iludir-se todos os dias, achando que o mundo foi construído por pessoas assim, que se vendem fácil!!!

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  • 14 de novembro de 2011 em 11:48
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    foi uma sessao visual e auditiva de sadomasoquismo puro

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  • 13 de novembro de 2011 em 23:31
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    Nem a crítica da folha livrou a cara do #calabocagalvão:

    ACABOU! ACABOU! ACABOU!

    A Globo se rendeu ao UFC e, pela primeira vez, transmitiu ao vivo para a TV aberta uma luta do evento. Assim, Galvão Bueno pôde colocar mais uma no currículo, para sorte ou azar de quem acompanhou a disputa do título dos pesados entre Júnior “Cigano” dos Santos e Cain Velasquez.

    E Galvão foi mais Galvão do que nunca. O juiz tinha “cara de mau”, Velasquez tinha “cara de mau. Nunca sorri”. Todo mundo era mau, menos o brasileiro, que “agora se lembra da infância difícil, do menino que vendia picolé aos dez anos”, adivinhou Galvão no fim da luta.

    Alguns dos famosos jargões do homem que não “calou a boca” durante a Copa também estavam lá. “Haaaaja coração, amigo”, disparou ao abrir o evento, amparado pelos comentários de Vitor Belfort, um dos lutadores brasileiros do MMA (artes marciais mistas) que melhor conecta socos e verbos. Mas até Belfort mostrou o seu lado Xuxa (comentarista-torcedor da natação do Pan na Record): “Tenho certeza que a gente vai gritar ‘Brasil’ no final da luta”, dizia o marido de Joana Feiticeira Prado.

    Para a sorte dos telespectadores, o embate durou apenas 64 segundos, estragando todo um arsenal provavelmente preparado pelo narrador. Ainda assim, foi tempo suficiente para Galvão perpetrar um ou dois novos jargões que você certamente ouvirá de novo, como “são os gladiadores do terceiro milênio”, que ele bradou mais de uma vez, apesar da curta luta.

    No golpe fatal, Galvão foi matemático: enquanto Cigano ia socando o rival no chão, o narrador apenas contava: “Um, dois, três, quatro…”. Depois, a famosa palavra repetida à exaustão e que funciona de última volta em corrida de F-1 a disputa de pênalti em Copa: “Acabou, acabou, acabou…” Certamente, nunca o fim desafinou tanto. Depois, a finalização clássica à la Galvão: “Júnior Cigano… DO BRASIIIIIL”.

    (…)

    http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1005958-no-ufc-galvao-bueno-foi-galvao-bueno-acabou-acabou-acabou.shtml

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