Ford Corcel – carro antigo restaurado brilha entre os novos
Feriadão com sol no Rio de Janeiro. Todo mundo se manda para a Região dos Lagos.
Numa frenética rua de Búzios, apinhada de turistas, um corcelzinho impecável estaciona junto ao meio-fio, naquele mar de carrões do último tipo. Praticamente todos preto e prata, as indefectíveis “cores” da moda. Aquele estranho no ninho metido ali no meio de companhias tão glamurosas quanto previsíveis começa a atrair olhares intrigados e curiosos.
O contraste se acentua de vez com a chegada do crepúsculo. Quando a iluminação pública é acionada o cenário torna-se surrealista — o Ford Corcel 1 agora parece uma supernova explodindo no centro das atenções e ofuscando a constelação opaca das demais estrelas quase gêmeas.
A balada está ainda longe de ter início mas o fluxo de gente se intensifica. As pessoas agora param e tecem comentários. Algumas circulam em torno do carro para um diagnóstico bem minucioso. Grupos de famílias também fazem seu stop and go. Garotos tiram fotos com o celular e perguntam aos pais que carro “sinistro” é aquele.
— Seu avô teve um igualzinho. Quando eu era do seu tamanho, a gente vinha para a praia num desses – relembra um pai num tom de sincera de saudade.
— Até música fizeram para ele, lembra? — comenta outro com a esposa, referindo-se a Corcel Cor de Mel, composta em 1969 pelos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.
E assim, os baús da memória coletiva vão sendo sucessivamente abertos e arejados durante algumas poucas e boas horas.
A alguns metros dali, na ainda tranquila varanda de um restaurante, o dono do Corcel apenas observa e coleciona fragmentos de lembranças anônimas. No dia seguinte pega a estrada movimentada com destino a Petrópolis, onde reside. A cada ultrapassagem esse carrinho com o símbolo do cavalo prateado será novamente o protagonista de novas e velhas histórias.
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Confesso ser apaixonado por veículos antigos. Meu sonho de consumo é ter um desses na minha garagem, apenas para dar umas voltas nos finais de semana, os demais dias ficará enrolado numa lona sem ninguém chegar perto. Grande abraço e parabéns pela matéria.