Corpo-a-corpo digital: Internet faz a cabeça do eleitor

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Do Blog Chefe de Redação

Há uma mudança estrutural em curso nas eleições de 2010. Diminui o poder das mídias tradicionais e, assim, saimos de um modelo vertical para um modelo horizontal de campanhas eleitorais.

A internet ainda não é decisiva mas liberta o eleitor para pensar com a própria cabeça. Ele volta a formar o seu voto no contato direto com amigos e redes de relacionamentos. É o corpo a corpo digital.

O MARKETING POLÍTICO NO BRASIL 2010

Por Paulo Cezar da Rosa *

A política, até o século XVIII, era feita toda na base do corpo a corpo. As relações eram horizontais, homem a homem. Chegamos ao capitalismo com isso.

Com o surgimento da imprensa, grandes mudanças puderam ser feitas. A Revolução Russa, por exemplo, possivelmente não teria ocorrido sem o Iskra, o órgão central do Partido Bolchevique. Logo depois veio o rádio e, através dele, se disseminou o Nazismo e o Fascismo. Já a televisão é a ferramenta principal da democracia americana, a democracia de mercado.

A grande mudança da internet é que ela esvazia a centralidade dos meios tradicionais de formação da opinião na sociedade capitalista. Há trinta anos, eu saia de casa, pegava dois ônibus, pra ir até uma banca no centro da cidade e comprar um jornal. Hoje, o moleque da periferia tem toda a informação que quiser na internet.

Há muito pouco tempo, o que a Folha de São Paulo dizia era a verdade. Hoje, a Folha, assim como a Veja ou o New York Times, tem a sua opinião e muito pouca gente dá importância pra ela. Isso terá uma repercussão forte nas eleições de 2010. Serão as eleições mais livres que o Brasil já teve.

O papel da internet

Isso não quer dizer que a internet será decisiva para fazer votos, como muitos estão dizendo. Nenhum candidato pode ignorar mais a internet, mas a sua importância direta ainda é muito pequena. A grande mudança que a internet propicia, junto de todas as outras formas de comunicação digital, é que ela liberta o eleitor para pensar com a própria cabeça e formar seu voto conversando com o colega de trabalho, com o companheiro de orações, com a família no almoço de domingo.

O que a internet revela é que a eleição está saindo da TV e migrando para o corpo a corpo. Candidato que quiser ser eleito precisa ter equipes de visitadores e multiplicadores, precisa de escritórios políticos profissionais em cada município, em cada bairro. Não se trata mais de “comprar” apoios de lideranças, de assalariar os formadores de opinião no período da campanha. Não. Hoje se trata de fazer chegar a mensagem até o eleitor, da forma mais profissional e transparente possível.

O caminho do assalariamento da liderança (que vai esconder que está sendo pago para fazer aquele trabalho) está errado. Não funciona mais. Hoje é preciso que as pessoas que vão pedir o voto sejam transparentes, digam, se for preciso, que estão ali fazendo um trabalho.

O papel da classe C

Em 2006, os candidatos do PT e o partido passavam por um momento de crise. Principalmente no Rio Grande do Sul, amplos setores de classe média mostravam-se descontentes com o PT. Na época, já havia a emergência da classe C. Os candidatos que buscaram compensar perdas apostando neste novo eleitor cresceram. Foi uma aposta de alto risco. Mas deu certo.

O Brasil está passando por uma mudança de grande profundidade. Esta é a última eleição da geração de políticos formada no combate à ditadura. As classes, os centros de poder, os mecanismos de formação da opinião, as gerações, tudo está se movendo.

As agências de publicidade

Nesta eleição, os candidatos estão contratando agências de publicidade para suas campanhas. Boa parte da explicação para isso se deve a pressão que estas fizeram contra as empresas de marketing político.

Depois da crise do mensalão, as agências demonizaram as empresas de marketing político. No fundo, a demonização do marketing tem por meta ocupar este mercado. Uma agência de publicidade não é a ferramenta adequada para fazer uma campanha política ou uma campanha eleitoral. Ela só funciona quando tem um marketing bem feito por detrás.

Hoje, está surgindo um novo cenário, um novo solo histórico. Está acabando o tempo da publicidade na política.

O novo Brasil precisa de conteúdo, de argumento político consistente. Você precisa dizer as coisas de um modo simples, mas não pode ser de um modo simplificado. A publicidade tende sempre à simplificação da política. A querer tratar o público alvo como menos informado, menos experiente, menos inteligente. A publicidade na política vai resultar sempre mais em derrotas. A política, cada vez mais, precisa do marketing. Tenho certeza que o marketing vai crescer cada vez mais na política.

Dilma e Serra

Dilma, sem dúvida, deve ser eleita. O Brasil está se revelando uma terra onde o impossível acontece. O país elegeu um trabalhador metalúrgico, sindicalista, que nunca havia governado sequer um município, e isso se revelou num dos maiores acertos da sua história. Agora, vai provar que é possível eleger até um poste. Porque Dilma, até dois anos atrás, eleitoralmente, era o que a gente chama de poste. E vai ganhar a eleição. Só um terremoto pode mudar isso.

É provável que Dilma fosse inviável antes do Lula até como deputada federal. Também não acho que o Obama ganharia, se as circunstâncias fossem diferentes. Lula e Obama só foram viáveis num mundo de globalização e internet, num mundo que voltou à relação direta, ao corpo a corpo. Dilma só viável porque o eleitor mudou. O novo eleitor brasileiro hoje exige uma reforma política. Só que ele não consegue acreditar nos políticos. Acredita no Lula, na Dilma, mas não acredita nos políticos (…)

Isso não significa que qualquer um possa ganhar. Não. Vai ganhar aquele que souber descer do salto, olhar no olho do eleitor de igual para igual. Dilma está melhor posicionada para isso. Até o fato de não ter carisma ajuda a Dilma.

O principal problema dos políticos brasileiros é a arrogância. Quando o político veste a farda de político e assume a posição de “ser superior”, ele se esteriliza. Na sociedade brasileira, os políticos que duram são aqueles que não mudam quando ganham poder.

* Paulo Cezar da Rosa é colunista da Revista Carta Capital.

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