Adidas vai lançar tênis a preço ‘mini’: só 1 dólar… na Índia

Adidas - tênis de US$ 1

NA BOCA DO JACARÉ

O Chefe de Redação

Vender calçado a 1 dólar faz parte de uma estratégia de conquista de mercado nos países emergentes. Isto só é possível com a exploração globalizada da mão-de-obra barata — escrava, seria o termo mais adequado. É chocante imaginar como se sobrevive com tão baixo salário e uma carga horária tremenda. Mas serve também para lembrar que não há sapatos de graça… nem quando são a um dólar.

PELO EQUIVALENTE A 2 REAIS… E AINDA VOLTA UM TROCO

por Leonídio Paulo Ferreira *

Esqueça o Nano, um carro que custa só 2 mil dólares. Ou o célebre computador a 100. O máximo agora em matéria de low cost são os tênis a um dólar prometidos pela Adidas. O que significa que quem tiver o equivalente a 2 reais no bolso não só se calça a preço “mini” como ainda recebe troco.

A promessa foi feita pelo boss da Adidas, Herbert Hainer, numa entrevista ao jornal alemão Die Welt. E a Índia é o país onde será tentado esse milagre econômico pela marca fundada, em 1949 ,por Adolf “Adi” Dassler, um sapateiro reconvertido em empresário de sucesso.

Uma tentativa anterior, anunciada com alguma pompa, falhou em Bangladesh. Apesar da parceria com o Grameen Bank, do Nobel Mohammed Yunus, os 150 milhões de bangladequianos não chegaram para otimizar a economia de escala.

Como explica a Adidas, o custo de produção “só” baixou até os 3,5 dólares por par de tênis, o que tornava inviável o projeto. Com os seus 1,2 bilhões de habitantes, a Índia promete ser capaz de fazer melhor que o vizinho.

É essa a crença da empresa de Herzogenaurach, vila da Baviera famosa por ser sede, além da Adidas, de outra gigante do material desportivo – a Puma. É que depois de uma briguinha com “Adi”, o seu irmão Rudolph fez questão de fundar ali a sua própria empresa.

Vender calçado a 1 dólar faz parte de uma estratégia de conquista de mercado nos países emergentes.

Mas o objetivo verdadeiro é seduzir a nova classe média, que se conta em centenas de milhões tanto na Índia como na China, capaz de pagar a sério pelo gosto de usar o calçado com as três listas. E como rival principal, a Adidas não tem a irmã Puma, mas sim a Nike.

Ainda no Mundial de Futebol, mostra por excelência para o material esportivo, a Adidas bateu a marca estadunidense, com 12 seleções equipadas (incluindo a Espanha) contra dez da Nike.

Em termos de vendas, 2010 foi um belo ano para a empresa alemã: 12 bilhões de euros.

Ora, o sucesso de ambas as marcas depende da soma entre inovação e baixos custos de produção.

E até agora era na China que se conseguia as melhores propostas. A ponto de haver fábricas que tanto produziam Adidas como Nike, como uma no sul da China que no fim-de-semana assistiu a confrontos com a polícia.

Sete mil trabalhadores protestavam contra uma série de demissõess, prenúncio de uma mudança de Guangdong para outra província com mão-de-obra mais barata.

É que o salário base mensal de 1.100 yuans (uns 300 reais) começa a ser demasiado alto para marcas que podem mudar num piscar de olhos o país onde fazem as suas encomendas.

Na China, calcula-se que o salário mínimo anual ande já nos 1.500 dólares (a moeda americana é insubstituível nestas comparações). E vai subir.

Ora, na Indonésia situa-se ainda nos 1.027 dólares, no Vietnam nos 1.002 e na Índia nos 857 (mais uma razão para a Adidas a ter escolhido para os tênis a preço “mini”). Na fila está a Birmânia, onde o custo anual de um trabalhador fica pelos 401 dólares.

É chocante imaginar como se sobrevive com tão baixo salário e muitas vezes uma carga horária tremenda. Mas serve também para lembrar que não há sapatos de graça… nem quando são a um dólar.

* No Diário de Notícias

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O Chefe de Redação


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