Com maior poder aquisitivo biriteiro passou a beber mais

O EXAGERO EQUIVALE A UM ‘TIRO’ NA SAÚDE

Design de garrafas

Muita gente acha que o brasileiro bebe muito. Não é verdade: metade da nossa população é abstêmia. Nem se compara, por exemplo, aos níveis de consumo da Europa ou dos simpáticos hermanos argentinos — também bons de bola, só que melhores do que nós na “modalidade” do halterocopismo.

Mas foi detectado um problema: na outra metade consumidora de álcool no Brasil, aumentou em 20% o número de pessoas que bebe de forma frequente (uma vez por semana ou mais) nos últimos seis anos.

Se for considerada apenas a população feminina, bem mais suscetível aos efeitos nocivos do álcool do que os homens, este crescimento chegou a 34,5%.

Os dados são do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Foram ouvidas 4.607 pessoas maiores de 14 anos, em 149 municípios de todas as regiões brasileiras.

O objetivo foi avaliar o padrão de uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas, além de fatores associados ao uso problemático dessas substâncias, como depressão e violência.

A primeira edição da pesquisa, realizada em 2006 com 3.007 entrevistados, surpreendeu ao revelar um índice alto de abstinência no país: 48%, inferior à europeia, em torno de 12%.

A boa notícia é que no levantamento mais recente o número de abstêmios se manteve praticamente estável – com leve alta para 52%.

Design de garrafa de bebida

Porém, entre os bebedores, aqueles que adotam um padrão de consumo de álcool considerado nocivo e batizado de “binge” – quatro unidades de álcool para mulheres e cinco para homens em uma única ocasião – aumentou de 45% para 59%.

Mais uma vez a mudança é maior quando se considera apenas a população feminina, passando de 36% para 49%.

As evidências apontam que o consumo de duas ou mais doses de álcool por dia pela mulher aumenta em 20% o risco de câncer de mama. Estima-se que 30% dos casos de câncer na população em geral tenham o álcool como um agente causador.

Um dos dados mais preocupantes é que 20% dos adultos bebedores consomem 56% de todo o álcool vendido no país. A maioria desse grupo é composta por homens jovens, com menos de 30 anos.

A pesquisa aponta outro problema: o padrão brasileiro é o de beber fora de casa, nas ruas, nos bares, e de forma excessiva. Os jovens bebem para ficar bêbados e isso aumenta muito o risco de prejuízos à saúde e de envolvimento com violência, drogas e outros comportamentos de risco.

Portanto, a ideia que a indústria do álcool tenta passar, de que no Brasil todo mundo bebe um pouco, não é verdadeira.

O 2º Lenad mostrou também que, entre os bebedores, 16% consomem quantidades nocivas de álcool nas ocasiões em que bebem e dois em cada dez apresentaram critérios para abuso ou dependência – o que corresponde à realidade de 11,7 milhões de brasileiros.

Design de garrafa de birita

Ainda entre os bebedores, 32% afirmaram já não terem sido capazes de parar depois de começar a beber; 10% disseram que alguém já se machucou em consequência do seu consumo de álcool; 8% admitiram que a bebida já teve efeito prejudicial no trabalho e 9% admitiram prejuízo na família ou no relacionamento.

Quase um terço dos homens jovens bebedores abusivos se envolveu em briga com agressão física no último ano.

O levantamento também mostrou um índice mais elevado de depressão entre os que abusam de álcool: 41%. A média de depressão na população em geral é de 25%.

Conclui-se, então, que é preciso desassociar a imagem do álcool à alegria. Quem bebe e bebe muito tem mais chance de ficar depressivo do que de ficar feliz.

É evidente que o crescimento econômico do Brasil nos últimos 10 anos e o consequente aumento da renda per capita é uma das razões do aumento no consumo de álcool – o que torna o país um mercado promissor para a indústria de bebidas.

O brasileiro em geral está com maior poder aquisitivo. Quem não gastava dinheiro com álcool continua não gastando. Mas os que bebem estão gastando mais com bebida, especialmente as mulheres.

Outro fator por trás dessa mudança no padrão de consumo é a falta de regulamentação do mercado ou fiscalização efetiva. Como não há regras feitas pelo governo ou pela sociedade, quem faz a festa e comanda o show é a indústria do álcool.

Completo na Agência FAPESP

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