TV Globo toca terror no Natal mas consumidor faz a festa
FALTOU COMBINAR COM O BRASILEIRO
Na virada de novembro para dezembro, o telejornal Bom Dia Brasil bombardeou a sua pequena audiência com uma pauta delirante e sem base de sustentação: de que este seria o magro Natal das lembrancinhas, como se tivéssemos voltado aos tempos sombrios de FHC.
Pela aposta maluca da TV Globo, o 13º salário de 2012 (que acabava de ser liberado) seria torrado na quitação de dívidas, não sobrando muita coisa para gastar com presentes de fim de ano. A sinistrose pairava no ar.
De lá para cá, para assombrar ainda mais o consumidor com suas fatídicas profecias à la calendário maia, o noticiário só destacou os efeitos negativos do tal pibinho (que, viu-se depois, não existiu do jeito que foi anunciado).
Até chegar ao seu ponto máximo no último sábado, quando o Supercine exibiu Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, um filminho norte-americano de 2009 — portanto, imediatamente após o início da grande crise no primeiro mundo.
Na comédia, uma garota com compulsão por compras estoura os cartões de crédito e faz de tudo para que sua situação financeira caótica não seja conhecida pelos outros. Até um grupo de apoio a consumidores compulsivos a protagonista frequenta.
A nítida intenção dos produtores do filme é menos desestimular o consumo, lá nos EUA, do que implantar um generalizado sentimento de culpa no espectador, transferindo dos banqueiros para a população a responsabilidade pela crise.
Se fosse exibido em qualquer época do ano, a mal disfarçada intenção da Globo nem daria tanto na pinta. Só que a ex-vênus platinada há muito se transformou numa periguete oxigenada.
Não, não foi mera coincidência programá-lo agora, às vésperas da semana — gorda para o comércio — que antecede os festejos natalinos. Foi sabotagem mesmo, inclusive contra os seus próprios anunciantes e patrocinadores.
Mas não há o menor motivo para preocupações porque os jornalistas globais não influenciam mais ninguém e acabaram quebrando a cara de novo. É que eles esqueceram de combinar a pauta com os consumidores. Alguma dúvida?
A Univinco, que representa os lojistas do comércio popular na região da rua 25 de Março, em São Paulo, espera um aumento de 8% nas vendas neste mês em relação ao ano passado. Um crescimento digno do PIB chinês.
Para a Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers), as vendas apontam um ritmo de crescimento de 15% neste mês em relação ao mesmo período de 2011. Cosméticos, telefonia, brinquedos, roupas e tênis lideram a lista de compras natalinas.
Já a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) estima que o consumo no mês de dezembro na região metropolitana de São Paulo, será R$ 4 bilhões superior em comparação com a média dos demais meses do ano.
Do total, R$ 1 bilhão 700 milhões devem ser destinados para a compra de presentes. A expectativa da federação é que cada família da região metropolitana de São Paulo compre, em média, quatro presentes e gaste entre R$ 60 e R$ 65 em cada um deles.
Em relação a todo o estado paulista, a FecomercioSP projeta que o resultado do Natal deste ano será “ainda melhor” que o do ano passado.
A estimativa é que o comércio paulista fature R$ 44,7 bilhões em dezembro, resultado cerca de R$ 6 bilhões superior ao do ano passado. As compras de Natal e Ano Novo devem impulsionar o comércio varejista paulista em cerca de R$ 9,8 bilhões.
No geral, a tendência deverá ser a mesma em todo o Brasil que — já está virando regra — não deu a menor bola para os urubólogos da Globo.