Os perigos do radicalismo da mídia e da ultradireita no Brasil

Jornal Nacional da TV Globo

JORNAL NACIONAL E INVOLUÇÃO HUMANA

O Chefe de Redação

A análise a seguir é um comentário de Jotavê — ‘upado’ por Luis Nassif — sobre os caminhos do radicalismo pós-Serra, com o iminente fim político do tucano paulista nas atuais eleições municipais.

A MÍDIA E A ULTRADIREITA NO BRASIL

A sede da ultradireita no Brasil não é um partido político, mas a grande mídia.

Os partidos políticos (PSDB, DEM e, conforme soprem os ventos, o PMDB) são apenas instrumentos de um centro de poder exterior a eles. A principal ferramenta utilizada é a denúncia seletiva e as campanhas orquestradas de difamação.

O combustível que move a ultradireita, sem o qual ela não conseguiria sobreviver, é a banditização da política. As denúncias seletivas só se tornam viáveis contra um pano de fundo de culpas efetivas, de crimes efetivamente cometidos em função da natureza intrinsecamente corrupta do sistema político.

Você pode sustentar uma ou duas denúncias completamente falsas, mas a grande maioria tem que ser verdadeira, ou pelo menos consistente. Caso contrário, a denúncia não consegue ganhar efetividade no plano do Judiciário.

O caso do mensalão é típico. Você consegue contrabandear os casos duvidosos (José Dirceu e José Genoíno) graças à existência de um grande número de casos incontroversos.

O político é, hoje, um elemento descartável no esquema de poder da ultradireita capitaneada diretamente pela mídia. Veja o caso de Demóstenes Torres. Quando as provas se tornaram incontornáveis, foi jogado aos leões sem dó nem piedade. O mesmo aconteceu com José Roberto Arruda.

É muito mais fácil cassar um político do que levar um jornalista da grande imprensa aos tribunais – o caso de Policarpo Jr. é emblemático. É muito mais fácil criar mecanismos de controle no Legislativo e no Judiciário do que no âmbito da grande imprensa.

Em princípio, os políticos poderiam se unir e impor medidas restritivas, não da liberdade de imprensa (nunca!), mas do controle exercido pelos proprietários sobre os conteúdos veiculados. Não o fazem porque, como bem lembrou Marcos Coimbra, citando Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”.

O juiz do Supremo, o deputado, o senador, o prefeito, tem que escolher: ou colabora com o esquema, e ganha páginas amarelas na revista Veja, ou resolve ter um comportamento altivo, e o genro leva chumbo na semana seguinte. É assim que funciona.

Serra será brevemente moído por essa mesma imprensa que o tem incensado. Ele não é mais importante, nem mais precioso do que Demóstenes Torres.

Precisam de alguém disposto a vocalizar com a necessária truculência o ponto de vista da ultradireita no Jornal Nacional. Na falta de Demóstenes, eles têm se virado perfeitamente bem com o senador Álvaro Dias.

Se algum bicheiro resolver colocar o nome do senador na roda, comprarão outro papagaio chipado para fazer o serviço. Candidatos não faltam. Serra foi útil. Não é mais. Será literalmente vomitado do noticiário assim que terminar a campanha.

A grande questão no Brasil contemporâneo, portanto, não passa pelos partidos políticos, mas pelo controle social da mídia. A esquerda patina, apresentando propostas que conseguem ser a um só tempo inócuas, perigosas e autoritárias.

Temos que imaginar propostas novas, eficazes, de grande apelo argumentativo, e conquistar um grande número de políticos para a ideia. Não se combate o poder da ultradireita tentando implementar medidas restritivas, que redundam em censura prévia de conteúdos.

Temos que combater o autoritarismo da ultradireita com mais liberdade, lembrando as imensas possibilidades abertas pelo advento da internet, e fazendo com que o poder de pressão dos proprietários dos meios de comunicação seja apenas UM dos fatores envolvidos na resultante.

No Luis Nassif

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