O papel da velha mídia no escândalo Demóstenes-Cachoeira

Patrão e empregado

O CORDÃO DOS PUXA-SACOS

O Chefe de Redação

Setores da opinião pública conservadora — portanto, nem você, nem eu — são manipulados por jornalistas da velha mídia, colunistas de jornais decadentes, âncoras de TV e diretores de redação, que se vendem em troca de centenas de milhares ou alguns milhões de migalhas, para que seus patrões abocanhem de grandes interesses financeiros gordas fatias de bilhões em dinheiros transnacionais.

Quando um governante não cai de cabeça nessa gosma promíscua de baba-ovos, pau nele! Maria Inês Nassif, na mais impactante análise saída hoje, 3, na Internet, dá uma visão antológica como rola a orgia política e midiática que acompanhamos hoje no país. É post para se repassar para todos os contatos.

O CASO DEMÓSTENES E AS RAPOSAS NO GALINHEIRO

por Maria Inês Nassif *

O rumoroso caso Demóstenes Torres (DEM-GO) não é apenas mais um caso de corrupção denunciado pelo Ministério Público. É uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos, venal.

E hipócrita também.

Teoricamente, todos os jornais e jornalistas sabiam quem foram os arautos da moralidade por eles eleitos nos últimos anos: representantes da política tradicional, que fizeram suas carreiras políticas à base de dominação da política local e que ocuparam cargos de governos passados sem nenhuma honra.

Que também construíram seus impérios políticos e suas riquezas pessoais com favores de Estado e estabeleceram relações profícuas e férteis com setores do empresariado com interesses diretos em assuntos de governo.

Puxa-saco de patrãoForam políticos com esse perfil os escolhidos pelos meios de comunicação para vigiar a lisura de governos. Botaram raposas no galinheiro.

Nesse período, algumas denúncias eram verdadeiras, outras, não. Mas os mecanismos de produção de sensos comuns foram acionados independentemente da realidade dos fatos.

Demóstenes Torres, o amigo íntimo do bicheiro, tornou-se autoridade máxima em assuntos éticos. Produziu os escândalos que quis, divulgou-os com estardalhaço.

Sem ir muito longe, basta lembrar a “denúncia” de grampo supostamente feita pelo Poder Executivo no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, então presidente da mais alta Corte do país.

Era inverossímil: jamais alguém ouviu a escuta supostamente feita de uma conversa telefônica entre Demóstenes, o amigo do bicheiro, e Mendes, o amigo de Demóstenes.

Os meios de comunicação receberam a suposta transcrição de um grampo, onde Demóstenes elogia o amigo Mendes, e Mendes elogia o amigo Demóstenes, e ambos se auto-elegem os guardiões da moralidade contra um governo ditatorial e corrupto.

Contando essa história depois de tanto tempo, e depois de tantos escândalos com Demóstenes correndo por baixo da ponte, parece piada.

Mas os meios de comunicação engoliram a estória sem precisar de água. O show midiático produzido em torno do episódio transformou uma ridícula encenação em verdade.

Repórter venal

A estratégia do show midiático é conhecida desde os primórdios da imprensa.

Joga-se uma notícia de forma sensacionalista (já dizia isso Antonio Gramsci, no início do século passado, atribuindo essa prática a uma “ imprensa marrom”), que é alimentada durante o período seguinte com novos pequenos fatos que não dizem nada, mas tornam-se um show à parte; são escolhidos personagens e lhes é conferida a credibilidade de oráculos, e cada frase de um deles é apresentada como prova da venalidade alheia.

No final de uma explosão de pânico como essa, o consumo de uma tapioca torna-se crime contra o Estado, e é colocado no mesmo nível do que uma licitação fraudulenta. A mentira torna-se verdade pela repetição (ensinava o nazista Goebbels).

E a verdade é o segredo que Demóstenes – aquele que decide, com seus amigos, quem vai ser o alvo da vez – não revela.

Convenha-se que, nos últimos anos, no mínimo ficou confusa a medida de gravidade dos fatos; no outro limite, tornou-se duvidosa a veracidade das denúncias. A participação da mídia na construção e destruição de reputações foi imensa.

Demóstenes não seria Demóstenes se não tivesse tanto espaço para divulgação de suas armações. Os jornais, tevês e revistas não teriam construído um Demóstenes se não tivessem caído em todas as armadilhas construídas por ele para destruir inimigos, favorecer amigos ou chantagear governos.

Puxa-saco de chefeOs interesses econômicos e ideológicos da mídia construíram relações de cumplicidade onde a última coisa que contou foi a verdade.

Ao final dos fatos, constata-se, ao longo de um mandato de oito anos, mais um ano do segundo mandato, uma sólida relação entre Demóstenes e a mídia que, com ou sem consciência (?) dos profissionais de imprensa, conseguiu curvar um país inteiro aos interesses de uma quadrilha sediada em Goiás.

Interesses da máfia dos jogos transitaram por esse esquema de poder. E os interesses abarcavam os mais variados negócios que se possa fazer com governos, parlamentos e Justiça: aprovação de leis, regras de licitação, empregos públicos, acompanhamento de ações no Judiciário.

Por conta de um interesse político da grande mídia, o Brasil tornou-se refém de Demóstenes, do bicheiro e dos amigos de ambos no poder.

Não foi a mídia que desmascarou Demóstenes: a investigação sobre ele acontece há um bom tempo no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Nesse meio tempo, os meios de comunicação foram reféns de um desconhecido personagem de Goiás, que se tornou em pouco tempo o porta-voz da moralidade.

A criatura depõe contra seus criadores.

* Maria Inês Nassif é colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.


Um comentário em “O papel da velha mídia no escândalo Demóstenes-Cachoeira

  • 3 de abril de 2012 em 17:36
    Permalink

    Já que estamos falando de bandidos, vou “roubar” o comentário da Luzete, no Luis Nassif, parece que primo da Maria Inês, por concordar totalmente com o desabafo dela:

    “maria inês, parabéns.

    você, conclui definitivamente, ao constatar “Demóstenes não seria Demóstenes se não tivesse tanto espaço para divulgação de suas armações.”

    exatamente! demóstenes, por princípio, jamais poderia se apresentar como paradigma de qualquer projeto ético para o país. digo isto, porque o partido que o acolhia era a UDN (ops, ARENA! DEM, tudo a mesma coisa! alguns deles se bandearam para outras siglas, mas a essência é a mesma) e este partido, jamais, jamais, pode ou poderia ser exemplo de nada, senão do atraso nacional, do preconceito, das coisas urdidas em surdina, na caserna, dos conluios que explicam fortunas pessoais inimagináveis. berço da corrupção, mal tão difícil de ser superado, porque, parece, criou raizes que se estendem para todos os ramos da vida política e civil do país, incluindo o judiciário e, sobretudo, a imprensa.

    esta imprensa, tal como você sugere, é justamente, aquela que legitimava as verdades desta turma. era ela que funcionava como caixa de ressonância dos desejos de uma quadrilha que, durante décadas, assaltou o país. é ela que está doente. é ela que está em crise, porque não pode mais impor as verdades que lhe interessam e que, no balanço que se faz da história, pode ser responsabilizada por muito do atraso cultural e moral que ainda invade certos setores da vida nacional.

    os tempos mudaram. estão mudando. sou otimista.”

    http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-espaco-que-a-midia-deu-a-demostenes

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *