O mergulho sem pudor de Chico Buarque no coração feminino


Mais do que encantar as mulheres com o inegável charme pessoal, além do notório talento artístico – tudo referente a ele é sempre superlativo -, Chico Buarque arrebata corações pela capacidade de mergulhar na alma feminina, numa cumplicidade sem o menor pudor. Raros são os homens que se atrevem a tanto com tal desprendimento. Tem que ser muito macho…

TERESINHA

(letra e música de Chico Buarque de Hollanda, com interpretação de Maria Bethânia)

O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada e, assustada, eu disse não

O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente, tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta, me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada e, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada, também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito posseiro dentro do meu coração

Esta letra foi inspirada na cantiga de roda “Teresinha de Jesus”, onde os três cavalheiros (seu pai, seu irmão e “aquele que Teresa deu a mão”) são substituídos por três amantes: o primeiro, sedutor e vindo do florista, lhe trouxe um bicho de pelúcia e um broche de ametista; o segundo, dominador e vindo do bar, lhe trouxe um litro de aguardante amarga de provar; e o terceiro, que não lhe trouxe nada, queria apenas o amor da moça.

O “EU” FEMININO

Segundo a Wikipédia, composições como esta se notabilizaram pela decantação de um “eu” feminino, retratando temas a partir do ponto de vista das mulheres com notória poesia e beleza.

Tal estilo também ficou registrado em Com Açúcar e Com Afeto, escrito para Nara Leão; continuou nessa linha com belas canções como Olhos nos Olhos, gravada por Maria Bethânia; Atrás da Porta, interpretada por Elis Regina; Folhetim, com Gal Costa; Iolanda (versão adaptada de letra original de Pablo Milanés), num dueto com Simone; Anos Dourados – um clássico feito em parceria com Tom Jobim para a minissérie de mesmo nome; e O Meu Amor, para a peça “Ópera do Malandro”, interpretada por Marieta Severo e Elba Ramalho, sendo que, para essa última, compôs também Palavra de Mulher.

Chico Buarque de HollandaVida e obra completa de Chico Buarque podem ser vistas no site oficial do artista.

 

2 comentários em “O mergulho sem pudor de Chico Buarque no coração feminino

  • 1 de fevereiro de 2011 em 11:44
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    Oi, querida. Eu não conhecia nem a musica nem a letra. Me pegou de surpresa e acabei emocionada d+, d+, d+. Para mim está explicado porque a mulherada se derrete toda pelo coroa. Por ele a partir de agora eu também sou um picolé num calor de 40 graus…

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  • 1 de fevereiro de 2011 em 09:11
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    Perfeito, querida: macho sim, machista não!

    Resposta

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