O desabafo de Marie contra as piadas masculinas sobre o estupro

Rafinha Bastos do CQC

OPINIÃO DA LEITORA

O texto a seguir foi enviado por nossa leitora e comentarista Marie no post Padre Luizinho e o estupro: inspiração de Rafinha Bastos do CQC, referindo-se à posição de certos “homens” sobre a violência sexual contra as mulheres.

A ilustração acima é uma montagem “politicamente incorreta” sobre a piada que o dublê de humorista do CQC postou no Twitter e que provocou a pichação da sua casa de stand up Comedians e os protestos nas edições da Marcha das Vadias, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O Chefe de Redação

Por Marie

Vi em muitos sites a repercussão sobre este assunto. Infelizmente, vi muitos comentários (principalmente de homens) que fazem gracejos com essa violência hedionda. Sinceramente, esse tipo de atitude me incomoda, entristece-me.

Que os homens se acham superiores, fortões e que acham que nunca passariam por algo deste tipo (ser estuprados) até entendo, mas daí a não ser solidários com nossa dor, isso é algo incompreensível. Afinal, todos mantêm relações de afeto conosco, mulheres. Todos nasceram de uma mulher. Muitos têm filhas, irmãs, tias, sobrinhas, namoradas, noivas, esposas, amigas, colegas de trabalho, de escola etc.

Culpabilizar a vítima, infelizmente, é algo recorrente em nosso país. Tática macabra de advogados que aproveitam de nosso imaginário coletivo chauvinista para defender a violência: a doméstica, das agressões sexuais e, pasmem, até da pedofilia!

Quem não se lembra do caso da Eliza Samúdio? Óbvio, não era nenhuma santa, mas merecia proteção policial como qualquer uma de nós e não teve. Todos só queriam explorar o seu triste passado.

Vi muita gente criticar a Marcha das Vadias e seu lema — nem putas, nem santas, apenas mulheres! — sem ao menos procurar saber, pesquisar a história da marcha, que o nome é em protesto a um policial canadense.

NADA JUSTIFICA VIOLÊNCIA. BASTA DE IMPUNIDADE.

Como diz a música da Yoko Ono, erroneamente interpretada de preconceituosa por alguns, a mulher é o preto do mundo.

Temos a luta pelos direitos dos homossexuais. Temos a história dos negros e do continente africano, em nossos livros didáticos, mas não temos a história das mulheres.

Somos mais da metade da população mundial e não temos temas femininos nem nas faculdades ou pós-graduações. Nada sobre as sufragistas, as jovens hoje acham que nosso voto nos foi dado por benesse masculina. Quem no Brasil sabe quem foi Olympe de Gouges?

Os homens que acham graça deste tipo de violência estão compactuando com ela, reforçando o machismo e o comportamento dos agressores.

O que você acha que vai pensar um jovem de baixa escolaridade, que mora em uma periferia violenta, que não tem valores morais sólidos, vê violência todo dia, com família desustruturada (pais delinquentes, drogados, presos, alcoólatras, irresponsáveis que abandonam filhos jovens à sua própria sorte) e vê um comentário desses, de um cara que faz sucesso, é famoso, tem audiência, dinheiro e inúmeras oportunidades na vida?

O que esse infeliz Rafael Bastos não sabe, é que as mulheres internalizam o comportamento machista, mesmo que inconscientemente, e acabam por achar que por serem bonitas ou estarem vestidas de determinada maneira, sofreram a violência. Muitas realmente se “embaragam” — já que não existe mulher feia e sim mal cuidada!

Foi o que aconteceu comigo, depois do que sofri, engordei 30 quilos, não me arrumo, não uso maquiagem e tenho dificuldades para levar uma vida social normal, sair de casa etc… Meu manequim era 34/36!

Realmente, parece que quanto mais o tempo passa mais este país piora. Já não se fazem mais homens como antigamente.

Gostaria que este cara fizesse esta piada na frente das mulheres que foram violentadas e de seus familiares. Será que realmente pode-se fazer gracejo com tudo? Eu acho que não.

Para quem acha tudo brincadeira, li um comentário de um rapaz em outra página na internet dizendo que devemos fazer piada da desgraça, levar acontecimentos tristes de nossa vida com bom humor, que o defeito é nosso. Afinal, nós mulheres é que somos sensíveis demais.

Queria que este e mais uma cambada dos que pensam assim, caso passassem pela experiência de serem violentados por um cabo de vassoura, provassem o que dizem: que ainda saíssem rindo de si mesmos…

* * *

O Chefe de Redação

3 comentários em “O desabafo de Marie contra as piadas masculinas sobre o estupro

  • 25 de setembro de 2011 em 14:49
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    Culpa disso tudo? Do feminismo brasileiro que não exige punição mais severa para violência simbólica contra nós. Já vi muitas “defesoras de mulheres” alegarem que sujeitos deste nível devem ser educados ao invés de punidos. E para piorar, tem ainda aquelas que dizem que nós mulheres não devemos nos revoltar e nem sentir raiva/ódio daqueles que zombam da nossa dor! É um medo insano de desagradar os “pobres machinhos”! Com feministas assim, não me surpreende que as crueldades feitas contra nós mulheres caiam na banalidade.

    Se dependesse de mim, eu colocaria este crápula na cadeia sobre a acusação de pedófilo. Aí iríamos ver se ele daria gargalhadas ao ser estuprado em massa e depois assassinado!

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  • 4 de julho de 2011 em 18:57
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    Pela cara e pela cor do caboclo a vassourada no rabicó deve estar doendo….. hehehe

    Resposta

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