O Brasil voltou a ter História, apesar do ódio da minoria

Mapa eleições - Brasil não é um país dividido

“Para a nova geografia política da elite paulistana, o Rio e Minas caíram para a segunda divisão: agora situam-se geograficamente na região Nordeste. O país fica assim dividido por região, ou seja, segundo o preconceito racial, além do monetário e social”.

A NOVA HISTÓRIA DO BRASIL

Por Márcia Denser *

Para quem se lembra daquela frase “O Brasil não tem história, só geografia”, comenta-se que agora temos uma “nova geografia”, redesenhada a partir do mapa das eleições deste segundo turno. A sacada é do Paulo Henrique Amorim, diz ele que a “Secretaria de Educação – que paga o salário PSDB, o Pior Salário Do Brasil – do José Serra produziu um livro de Geografia com dois Paraguais. Agora, a Geografia do PiG – Partido da Imprensa Golpista – redesenhou as regiões do Brasil para justificar o racismo. Quem vota na Dilma é pobre, nordestino, semi-analfabeto.”

Para a nova geografia política da elite paulistana, o Rio e Minas caíram para a segunda divisão: agora situam-se geograficamente na região Nordeste. O país fica assim dividido por região, ou seja, segundo o preconceito racial, além de monetário e social. É assim que os freqüentadores do restaurante Fasano dividem o Brasil. Naturalmente, a questão é desqualificar a vitória de Dilma.

Mas a coisa vai mais longe, para além dos óbvios empates técnicos constatados onde pretensamente Zé Pedágio teria vencido (50% a 49% no Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Sul, 51% a 48% no Mato Grosso), sem contar votações expressivas em Sampa (54% a 45%), Paraná (55% a 44%) e Santa Catarina (56% a 43%), existe um fato: a opinião pública no sul e sudeste agora – felizmente – está dividida!

E isto significa que emergiu no interior da própria classe média uma nova consciência política que começa a deslocar a inconsciência despolitizada, consolidada na alienação enganchada na rabeira dos velhíssimos chavões da mídia hegemônica, dos preconceitos dessa mídia não questionadora da realidade – uma vez que realidade é só aquilo que ela edita – mídia, cujas afirmações e acusações feitas num dia, são alteradas ou esquecidas ou negadas no outro, dessa mídia que, em nome da vantagem imediata, dá as costas à História.

E tais classes desinformadas, inconsistentes e sem projeto são facilmente vencidas, uma vez que nada têm por que lutar, nada têm a almejar: é a reedição piorada da não menos arcaica “maioria silenciosa” emparedada em shoppings, filmes dublados, entrincheirada atrás de muros e guaritas, acovardada, imbecilizada – mórbida. Sitiada no interior da própria hipocrisia.

É pouco. Não deu. Realmente, nem Serra, nem Aécio, nem pós e neo-tucanos poderiam contar com tal base eleitoral, neo-nazistas à parte, que estes são o que são, aberrações, minorias.

É verdade que há bem pouco tempo o Brasil voltou a ter orgulho de si,o projeto vitorioso, sobretudo do segundo governo Lula, é recentíssimo, ainda não penetrou em todos os corações e mentes. E é a este projeto que a nova consciência dum Brasil mais politizado começa a responder, atender, em resposta a uma falsa (e velhíssima) geografia alienada, entreguista, separatista.

Porque o Brasil voltou a ter História.

* Márcia Denser é escritora, paulistana.

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Um comentário em “O Brasil voltou a ter História, apesar do ódio da minoria

  • 5 de novembro de 2010 em 21:47
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    “Para não aceder à humanidade, as pessoas se atiram nas profundezas sombrias da doutrina zoológica que é o racismo.”

    (Franz Kafka)

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