Jornalista estrangeiro pode trabalhar aqui; médico cubano não

O JOGO ENTRE FUTEBOL E SAÚDE PÚBLICA

Médicos brasileiros contra cubanos

Em várias áreas há uma enorme quantidade de estrangeiros exercendo atividades profissionais no Brasil e nunca ninguém reclamou ou, sequer, prestou atenção na sua presença.

No jornalismo, por exemplo, em que pese o desemprego em massa promovido pelos grandes órgãos de imprensa, dezenas de escritórios de comunicação começam a ser montados para a cobertura dos próximos megaeventos esportivos, como a Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016.

Serão enviados milhares de repórteres, redatores, editores, comentaristas, colunistas, correspondentes, técnicos e pessoal de apoio — de todas as nacionalidades — que, por mais de três anos, vão exercer o seu ofício livremente em todo o território brasileiro.

Apesar dessa invasão anunciada, nem um pio de entidades de classe e muito menos revolta e indignação, como a que hipocritamente é promovida pela velha mídia e nas redes sociais contra a vinda de um grupo de médicos cubanos — com uma função, portanto, muito mais relevante do ponto de vista social do que o circo das transmissões esportivas.

MERCANTILIZAÇÃO DA MEDICINA

Sobre este assunto, oportunamente, o escritor Frei Betto criticou os ataques à decisão do governo federal de trazer médicos estrangeiros para o Brasil, que avalia como uma tentativa de melhorar a distribuição dos profissionais da saúde no país.

Ele também criticou o sistema médico brasileiro, cada vez mais mercantilizado: “O Conselho Federal de Medicina (CFM) reclama da suposta validação automática, mas em nenhum momento isso foi defendido pelo governo. O temor é encarar a competência de médicos estrangeiros”.

Betto ressalta que há uma distribuição desigual dos profissionais da saúde no país e cita dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2011, que indicam a concentração de 209 mil médicos (dos 372 mil registrados no Brasil) nas regiões Sul e Sudeste e pouco mais de 15 mil na região Norte.

Segundo esses dados, 65% dos médicos brasileiros se encontram em áreas onde reside menos da metade da população brasileira.

“Médico cubano não virá para o Brasil para emitir laudos de ressonância ou atuar em medicina nuclear. Ele vai tratar de verminoses, malária e desidratação, reduzindo casos de mortalidade materna e infantil, aplicando vacinas e ensinando medidas preventivas, como cuidados de higiene”, diz Frei Betto.

Segundo estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), o Brasil dispunha de 1,8 médico para cada mil habitantes em 2011, enquanto os índices da Argentina e de Cuba eram de 3,16 e 6,39 médicos por cada mil habitantes, respectivamente.

QUE VENHAM PORTUGUESES E ESPANHÓIS

Betto indica algumas iniciativas para tentar reverter o quadro, como a proposta do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) de fazer os médicos formados em universidades públicas trabalharem durante 2 anos em áreas carentes, a fim de ter seus registros profissionais validados.

Outra iniciativa é o programa de valorização do profissional de saúde de atenção básica, que oferece salário inicial de 8 mil reais e pontos de progressão de carreira para médicos que realizarem serviços de atenção primária à população de 1.407 municípios.

Na semana passada, o governo federal anunciou a possibilidade de trazer seis mil médicos cubanos para trabalhar no interior do Brasil. Em seguida, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acrescentou que o governo busca fechar parcerias também com Portugal e Espanha.

O porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumman, anunciou na segunda-feira (20) que o Brasil oferecerá vistos de trabalho entre 2 e 3 anos para profissionais dos três país que queiram realizar atendimento em cidades do país carentes na área da saúde.

“A ideia do programa é concentrar os médicos em cidades onde não há ou onde há um índice de profissionais muito abaixo da média mundial e em subúrbios”. Ele disse ainda que o governo negocia esse programa com os três países desde o ano passado e esclareceu que o número de médicos que poderão vir ao Brasil ainda não foi definido.

Acompanhe a coluna de Frei Betto na Rádio Brasil Atual

Um comentário em “Jornalista estrangeiro pode trabalhar aqui; médico cubano não

  • 22 de maio de 2013 em 10:39
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    Bom-dia,

    Creio que Frei Betto é um idealista e bem intencionado em atos, pensamentos e ações. Não tenho nada contra os “médicos cubanos,” pois eles só querem trabalhar e exercer a sua nobre missão. Conforme entendi, serão médicos emergenciais e que irão instruir a população sobre prevenção de doenças. Infelizmente, o povo brasileiro que pensa, está escaldado de falcatruas, de pagar tantos impostos e de nada receber de volta. é uma grande injustiça, a gente saber que pessoas morrem em filas e corredores do SUS, por falta de atendimento, enquanto espertalhões, canalhas e bandidos forram as cuecas de dinheiro. Isso é ultrajante, inominável.Várias perguntas martelam na minha cabeça: “1.Por que não há políticas públicas de valorização desses profissionais??” Por que temos que recorrer ao exterior? 2. Por que queriam até fechar faculdades de medicina, aqui no sul, senão teríamos médicos demais?? 3. Por que mesmo pagando( e não é nada cessível) gordas mensalidades aos planos de saúde, sempre devemos pagar “algo mais” ao médico por um procedimento cirúrgico ou algum outro exame?? (Os médicos reclamam que lhes é repassado um valor humilhante, será mersmo???)O fato é que precisa ser muito ingênuo, um crente absoluto para acreditar nos nossdos atuais governos: Federal e Estadual( Rio Grande do Sul). estou sempre e sempre lendo e pesquisando. Só quero me informar, entender.Lamento sempre ter perguntas que não chegam a serem respondidas. Aguardo mais informações.

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