Entranhas do golpe – o dossiê nasceu em ninho tucano mineiro

A bala de prata

“Se non è vero, è ben trovato” (ditado italiano)

A Cachaça da Happy Hour

A CRONOLOGIA DA BALA DE PRATA

Por Alberto Bilac de Freitas *

Para se entender a lógica desse episódio da violação do sigilo fiscal de Verônica Serra, a gênese de tudo e as entranhas da que seja, talvez, a mais bem-urdida trama de espionagem político-eleitoral jamais tentada, há que se raciocinar como um deles; há que pensar como um, digamos, operador das profundezas do subterrâneo malcheiroso em que se transformaram o entorno e o núcleo da entourage próxima a José Serra.

A cronologia do bestialógico:

2005 – Passado o ápice do mensalão, Serra avaliava que Lula seria reeleito em 2006. A partir daí, seguiu-se o roteiro de empurrar Alckmin para a derrota anunciada. Decidira-se desde aí, que a chance de Serra seria em 2010, quando Lula já não poderia ser candidato. Mas o núcleo da inteligência serrista, coordenado por Marcelo Itagiba, sugeriu um laboratório do que seria aplicado em 2010: o escândalo dos aloprados, em 2006, por pouco não derrota Lula. Mas o objetivo era esse mesmo: um teste, para ver se o método aplicado com sucesso em 2002 com o caso Lunus, implodindo a candidatura Roseana, poderia ser reeditado. A armação com o delegado Edmilson Bruno, levando a eleição presidencial para o segundo turno, mostrara a viabilidade do método.

2008 – Com a articulação de Aécio Neves para o ser o candidato do partido em 2010, o staff de Itagiba começa a fazer um trabalhinho miúdo sobre o mineiro; coisa de pequena monta, que não inviabilizasse o apoio deste a Serra, no futuro, mas o suficiente para afastá-lo da disputa. Quando os esbirros de Serra na mídia lançaram a senha: Pó pará, governador! Aécio entendera que a turma era da pesada e não estava para brincadeiras. Nasceu aí o contra-ataque aecista: Amauri Ribeiro Júnior, então em um periódico mineiro, encabeçaria o projeto do contra-ataque e municiaria a artilharia mineira. Essa batalha subterrânea duraria até o final de 2009, quando Aécio recuaria.

2009 – Durante a batalha entre os dois grupos tucanos, Serra fica sabendo da farta e explosiva munição recolhida por Ribeiro Jr. O núcleo de sua equipe de inteligência, coordenado por Itagiba e que o acompanha desde os tempos do Ministério da Saúde, o adverte então: o material era nitroglicerina pura. Urgia providenciar um fogo de barragem, que pudesse ao menos minimizar o estrago quando o material viesse a público. Nasceu então, aí, nesse espaço-tempo, o hoje famoso dossiê “quebra de sigilo de Verônica Serra”! Note que os personagens envolvidos na ‘quebra de sigilo’ são os mesmos do livro do Amauri: José Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, Gregório Marin Preciado, Mendonça de Barros e Verônica Serra (aí leia-se também Verônica Dantas e seu irmão, o querubim Daniel). Eduardo Jorge foi inserido aí como seguro. Próximo a FHC, mas não de Serra, EJ era o seguro contra qualquer atitude intempestiva de FHC, sabidamente não confiável, para que se mantivesse quieto quando a artilharia pesada viesse à tona.

2009 – Tomada a decisão, parte-se para o fogo de barragem. A parte mais fácil foi a montagem da ‘quebra’ de sigilo fiscal das vítimas. A incógnita, até agora, é que tipo de envolvimento tem o laranja Antônio Carlos Atella com a operação. Se é apenas mais um cavalo, o clássico operador barato, facilmente descartável, com acesso a algumas informações úteis e suficientes e lançador da isca fundamental: “Não me lembro quem foi… com certeza é alguém que quer prejudicar o Serra”. Ou se é alguém orgânico, um insider dos intestinos itagibistas!

2010 – Com a desistência de Aécio, o grupo fica com a arma na mão, à espera da publicação do livro. É aí que se opera a clivagem para o quadro definitivo que vemos hoje: não é suficiente esperar o ataque do Aécio, que pode não vir, já que o mineiro recolheu suas baterias para o front de Minas Gerais. É preciso partir para o ataque. Além de neutralizar o grupo de Aécio, jogar pensando na frente, em fubecar a campanha de Dilma Roussef. Reeditar o mesmo estratagema de 2006. Ganhar a eleição na mão grande. O delegado Onésimo (outro que acompanha o grupo desde os tempos do bureau de inteligência do Ministério da Saúde) seria despachado para contactar o inimigo. Pausa. Agora recortem os informes dos integrantes do ex-comitê de inteligência de Dilma: tanto Lanzetta quanto Amauri reportam que Onésimo sugeriu insistentemente ao comitê, a realização de ações de contra-inteligência contra Serra. O azar deles é que Amauri, jornalista macaco velho e com conhecimento da comunidade de informações, sentiu logo o cheiro de queimado e cortou, de pronto, as ofertas de Onésimo. Não houvesse a negativa de Amauri, o passo seguinte de Onésimo seria a oferta do dossiê (já pronto) com a quebra de sigilo fiscal dos 5 tucanos. Estaria pronta e armada a reedição do escândalo dos aloprados em sua segunda versão. A campanha de Dilma não resistiria. A versão dos aloprados de 2006, perto desta, seria pinto. Era o modo mais seguro de Serra se eleger presidente. Esse é o modus operandi de Serra.

Com a recusa do ex-comitê de Dilma em morder a isca, tiveram que refazer o plano. O PT aprendera com os aloprados de 2006. Dilma, nesse ponto, muito mais impositiva que Lula, decepa no nascedouro o comitê de inteligência. O projeto original se complicara. Com o dossiê pronto desde 2009, a solução era vazá-lo, aos poucos, para a mídia parceira. Primeiro, vaza-se o EJ. Cria-se uma comoção (se bem que EJ, como vítima, não ajuda muito). Depois, a conta gotas, vem o restante: Ricardo Sérgio, Marin Preciado e Mendonça de Barros. E por fim, a cereja do bolo: Verônica Serra. Observem que o momentum foi escolhido a dedo por Serra: a entrevista em um grande telejornal! De novo, a semelhança: em 2006, os pacotes de dinheiro do delegado Bruno saíram no Jornal Nacional, da Globo; agora, o momento ‘pai ultrajado’ de Serra, foi encenado no Jornal da Globo! A intelligentsia serrista já foi mais original.

Diante desse quadro, o leitor inquieto deve estar se perguntando: o que deve fazer o PT e a campanha de Dilma? Assistir, inertes, a mais uma escalada golpista, como foi a de 2006? Tentar fazer o contraponto em uma mídia claramente parcial, golpista e oposicionista, conforme confessou dona Judith Brito, diretora da ANJ? O que fazer? O governo sabe onde está o antídoto ao veneno golpista da oposição! Não se sabe até que ponto o jornalista Amauri Ribeiro Júnior está integrado à campanha de Dilma Roussef. Também até que ponto vai o empenho dele em livrar o país do ajuntamento político mais nefasto que o infesta, desde a redemocratização. O fato é que o seu livro, Os Porões da Privataria, é esse antídoto! Esse livro, verdadeira bateria anti-aérea que pode abater o núcleo duro do tucanato ligado a Serra, e o próprio Serra, de uma só vez, pode ajudar o Brasil a virar uma das páginas mais negras de seu curto período democrático!

* Publicado originalmente no blog Terra Goyazes

18 comentários em “Entranhas do golpe – o dossiê nasceu em ninho tucano mineiro

  • 17 de setembro de 2010 em 13:05
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    blogueiros vamos cobrar tabem da Marina Silva explicações porque é que ela ta fazendo o jogo dos tucanos ela tabem deverria perguntar ao candidato SERRA porque ele não falou nada antes ja que ele ja sabia de tudo des de 2009 quero ver se ela continuara fazendo o joguinho deles são dois pesos duas medidadas temos que cobrar dela tambem respostas

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  • 17 de setembro de 2010 em 12:54
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    atenção blogueiros vamos espalhar novamente este conteudo novamente na rede para que estes bicudos tucanos não fiquem na inventando coisas porque eles estão armando mais a baixaria não acabou eles querem colocar DILMA no olho do furacão vamos nos mobilizar nesta reta final da campanha e espalhar todas as materias que encontrarmos na rede vamos ajudar o pais seguir em frente não parem de divulgar hoje é 17/09/2010 vamos mobilizar todos para que o pais saiba quem são os tucanos DILMA neles vamos contribuir com a democracia porque tem muita rede de tv querendo derrubar lula e o PT Vamos blogueiros ate o dia 03 de outubro somos o portavoz da democracia do Brasil um grande abraço a todos

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  • 12 de setembro de 2010 em 15:08
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    Cumpre lembrar que a expressão “bala de prata” foi usada pela candidata Duchefe como sendo algo para ser usado contra ela… A turma do “a favor, de olhos fechados” está precisando de mais coordenação…

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  • 4 de setembro de 2010 em 09:50
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    Dá para entender o ódio que o SERRA tem dos blogs e o seu desespero para estabelecer uma censura nesse setor.

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  • 3 de setembro de 2010 em 17:46
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    Caríssima Nívia,

    Obrigado pela ressonância do texto. Esse é o espírito da Blogosfera: livre, democrática e incontrolável! Permita-me adicioná-la aos meus links favoritos..

    Abraço do Alberto

    Resposta da Nivia: Eu é que agradeço pela oportunidade que você proporcionou de reblogar um post tão bem concatenado sobre assunto de tamanha gravidade para a nossa democracia. Sinta-se vitorioso pela repercussão alcançada e seus desdobramentos, o mérito é todo seu. E como a recíproca é verdadeira… olhali no blogroll. Abraço idem.

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  • 3 de setembro de 2010 em 17:13
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    A bala de prata já ricocheteou e está bombando na rede. O texto está sendo publicado por dezenas de blogs depois que ganhou visibilidade nacional no Nassif. É só buscar no Google para conferir. Agora é nóis!

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  • 3 de setembro de 2010 em 16:26
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    Muito esclarecedora a cronologia.

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  • 3 de setembro de 2010 em 16:23
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    Caro Alberto Bilac de Freitas, muito esclarecedora sua história, tomei a liberdade de divulgar na rede essa “saga” tucana, inclusive nos comentários do Estado de S. Paulo!

    Essa versão dos “fatos” deve ser divulgada ao máximo pela rede, e se possível dentro dos “ninhos” tucanodemos (quando der, lógico)!

    Parabéns, pela lógica e lúcidez na narração!

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  • 3 de setembro de 2010 em 16:16
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    Já estou repassando para os meus contatos. Esse é o tiro de canhão para detonar o consórcio pig-tucano e sua balinha de festim prateada.

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  • 3 de setembro de 2010 em 16:07
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    Perfeito, esclarecimento nota 10. A plantação desses tu kana(…) vai ser um tiro no pé. Por quê o Amaury não lança logo o livro? Qual é a jogada? Vamos enviar esse comentário a toda a rede de blogs.

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  • 3 de setembro de 2010 em 16:04
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    Nesse duelo sinistro quem você acha que é mais vulnerável e passível de virar pó ao tomar uma bala de prata no coração, o aécio ou o SERRA?

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  • 3 de setembro de 2010 em 15:53
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    Qualquer pessoa, com um mínimo de bom senso, já sacou que isto é armação tucana. É puro desespero.

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  • 3 de setembro de 2010 em 14:49
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    O que está em jogo também é o seguinte: com a Dilma, no final do mandato dela o Brasil já poderá ser a 5ª maior economia do mundo. Isso não interessa aos neocons, que têm que nos devolver para a posição onde nos largaram com FHC: entre medíocres 10º e 12º lugares… com o rabo preso e a crista arriada. Esses “illuminati” querem ganhar seja qual for o custo para cumprir a sua missão sagrada.
    Bjs, Ju

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  • 3 de setembro de 2010 em 14:09
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    Ótimo texto, esclaredor. Confirmou a minha suspeita de que essa quebra de sigilo era obra dos próprios tucanos.

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  • 3 de setembro de 2010 em 12:58
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    Olá Nívea:
    Sempre dando um show de conteúdo e imagens.
    A ampliaçao da mão prateada saindo de dentro da TV ficou ‘o bicho’!!!
    Muito pertinente, pois qdo se fala em ‘bala de prata’ ela não é para atingir a candidata Dilma, mas para destruir os sonhos, aspirações e a vontade popular.

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  • 3 de setembro de 2010 em 11:23
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    Parabéns ao Bilac de Freitas, pela autoria, e a você, amiga, pela sensibilidade de ajudar a dar ressonância a um assunto tão delicado.

    Nós, blogueiras e blogueiros, prestamos SIM um serviço de utilidade pública que a velha mídia golpista se nega a desempenhar.

    Viva a blogosfera progressista e independente!

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  • 3 de setembro de 2010 em 10:41
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    Para mim esta foi uma das contribuições mais didáticas para compreender e ajudar a desmascarar a farsa da quebra do sigilo tucano. Para quem estava confusa como eu, pelo menos deu para desatar vários nós.

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