Avenida Brasil, a novela: ‘apagão’… só se foi na cabeça da audiência

Apagão na cabeça do telespectador

UMA REVOLUÇÃO DE SEGUNDA

A Cachaça da Happy Hour

A TV Globo marcou um golaço comercial. Anunciantes pagaram 800 mil reais por 30 segundos de inserção publicitária no último capítulo de Avenida Brasil. A novela faturou 2 bilhões de reais em sete meses — calcula-se que o custo total tenha sido de apenas 45 milhões.

O SEGREDO DO SUCESSO DE AVENIDA BRASIL

Por Kiko Nogueira *

Você sabe qual é? Eu não, porque não vi um mísero capítulo. Mas me contaram…

Eu tentei.

Tati Bernardi, escritora e roteirista da Globo, disse que essa novela era diferente: “a iluminação, as câmeras, a direção de atores… uma coisa revolucionária”.

Eu tentei, repito.

Da primeira vez, uma mulher — que depois soube que era a Carminha — berrava com outra. Da segunda, a outra berrava com ela. E da terceira vez.

Então desisti para me dedicar à leitura e assistir a séries que a TV a cabo deixa à nossa disposição.

Na sexta, o último capítulo.

Dava pra escapar? Ouvi falar que ia faltar luz — não faltou — e que não haveria ninguém nas ruas — a lanchonete, aqui perto de casa, pelo menos estava cheia.

De qualquer maneira, foi um sucesso estrondoso, eu soube. Deveria ter acompanhado? Me fez falta?

Não quero ser esnobe, mas não me fez falta. Nenhuma.

Acho tudo de segunda: a atuação, o texto… principalmente o texto, sempre sofrível e cheio de clichês. A maior definição de perda de tempo.

Mas eu devo estar errado. Avenida Brasil teve média de 46 pontos no Ibope. No último capítulo, deu 52. Uma surra homérica em todos os concorrentes.

Ricardo Waddington, diretor de núcleo da Globo, atribuiu isso tudo a como os pobres foram retratados.

“Antes, eles estavam sempre sonhando em deixar o subúrbio e ficar ricos”, contou para a Folha de S.Paulo.

“Mas agora nós queremos mostrar um lugar que, apesar de humilde, é acolhedor e onde há prosperidade”, ressaltou.

Avenida Brasil retratou esse crescimento da classe C, é a explicação mais comum. Perto de 35 milhões de brasileiros seriam, agora, de classe média.

De acordo com o Instituto Data Popular, eles teriam metade dos cartões de crédito do país e gastaram 1 trilhão de reais no ano passado.

A TV Globo marcou um golaço comercial, também. Anunciantes como Procter&Gamble pagaram 800 mil reais por 30 segundos de publicidade.

No total, a novela faturou 2 bilhões de reais em sete meses — calcula-se que o custo total tenha sido de apenas 45 milhões.

Desconfio, porém, que a verdadeira razão do êxito de Avenida Brasil seja mais simples: uma história capaz de segurar a atenção das pessoas por tanto tempo.

Feliz ou infelizmente, porém, eu não vi nada. Nem o último capítulo, aliás.

A nova novela das 9, Salve Jorge, passa numa favela ocupada pela polícia. Me contaram que também será uma coisa revolucionária.

Não duvido. Pena que eu terei mais o que fazer.

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* Kiko Nogueira é jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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