Afinal, nós viemos aqui para beber ou para jogar xadrez?

UMA DEGUSTAÇÃO ETÍLICA E ENXADRÍSTICA


Quando o tabuleiro de xadrez lembra mais uma bandeja e taças de vinho representam as peças, a resposta só pode ser:
— Nós viemos aqui para as duas coisas, saúde!

Na realidade, é impossível não linkar esta maneira de praticar o xadrez, em que se consome o conteúdo das “peças”, a Adoniran Barbosa – cantor, humorista, ator e compositor de Trem das Onze e Saudosa Maloca, entre outros – que no final de um antológico comercial para a TV, em 1974, perguntava:

— Nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?

Jogo de xadrez bebível - vinho tinto e branco

O hábito de se misturar o xadrez com bebidas é mais antigo do que se supõe e nem tem de ser obrigatória e etilicamente explosivo.

Pelo contrário: reza a tradição que a prática sempre ressurge com força após conflitos de grande magnitude, como forma de espantar o baixo astral e lembranças traumáticas evocadas por selvagerias e derramamentos de sangue.

Afinal, está implícito que o jogo de xadrez suscita uma feroz batalha campal, isso ninguém pode negar.

Drinks com jogo de xadrez

Um brinde à paz

Nesses períodos de pós-guerra, portanto, a intenção era promover o mais rápido possível a confraternização entre os contendores, sem acirrar ânimos ou dar margem a sentimentos revanchistas.

Os campeonatos regionais e internacionais contribuiam para ajudar a remover os escombros e entulhos xenofóbicos ou de nacionalismos exacerbados. A vida era refeita, agora sob o signo da paz – só que com o espírito mais relaxado, para cicatrizar feridas o quanto antes.

Conta-se que grandes mestres enxadristas norte-americanos, alemães, ingleses, judeus, russos e japoneses participavam de verdadeiras happy hours após as rodadas dos torneios que se seguiram à Primeira e Segunda Grandes Guerras, virando todas em ruidosas partidas.

Afinal, afogar as mágoas de vez em quando, como se diz, faz parte.

Jogo de xadrez com bebidas

Regras flexíveis

Mas isto não quer dizer que a carraspana seja o objetivo almejado, muito pelo contrário. Xadrez e vinho, no caso, exigem uma certa etiqueta.

O procedimento mais adequado, portanto, é a moderação: o conteúdo das peças excluídas deve ser apreciado, vagarosamente degustado. É aí que reside a graça da “brincadeira”. Por isso não se recomenda a modalidade de xadrez relâmpago – ou blitz – porque o jogo pode descambar para uma sucessão de lapadas com resultados mais que previsíveis.

Embora as regras sejam flexíveis, em geral se estabelece que cada jogador tenha o direito de saborear o conteúdo de toda taça capturada do adversário. Quanto ao perdedor é concedido o “amargo privilégio” de engolir a dose de seu próprio Rei, como aviltamento final pela derrota, numa espécie de código de honra

É comum grupos de amigos ou casais se reunirem à noite ou em finais de semana para estas partidas de xadrez temperadas com bons vinhos. E para completar o cenário, nada melhor que um fundo musical de MPB. E por que não com a companhia de Adoniran e seus intérpretes magistrais?

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