A piada cretina e racista de Danilo Gentili, do CQC, contra judeus

CQC - Piada racista

QUEM APERTA O GATILHO QUE DISPARA O ÓDIO NA REDE?


A máxima “a internet é um espelho fiel da sociedade” parece ainda mais cabível quando observadas as ondas de discriminação e ódio que têm emergido nos últimos meses no Twitter. Análise da evolução diária das denúncias no microblog, elaborada pela SaferNet Brasil — organização não-governamental que combate crimes contra direitos humanos na rede –, confirma o que já se suspeitava: eventos do “mundo real” impactam diretamente o ambiente virtual liberando ondas de ataques sucessivos de caráter racista, homofóbico e de gênero.

O Chefe de Redação

DANILO GENTILI – POLITICAMENTE FASCISTA

Por Marcelo Coelho, na Folha *

O comediante Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque “a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”.

Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.

Não aguentei mais do que alguns minutos do programa “CQC”, na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show “Politicamente Incorreto”, em outubro de 2010.

Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. “Deve ser por isso que tem tanto encosto lá.” Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.

A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque “o câncer era benigno”.

Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: “Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado”.

Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. “Politicamente incorreto”, no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.

A questão é que o rótulo vende. Ser “politicamente incorreto”, no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto” –e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.

Não nego que o “politicamente correto”, em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.

Mas o “politicamente incorreto”, em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.

Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. “Mulheres são burras!” “Ser contra a guerra é viadagem!” “Polícia tem de dar porrada!” “Bolsa Família serve para engordar vagabundo!” “Nordestino é atrasado!” “Criança só endireita no couro!”

Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: “Viram como sou inteligente?”.

“Como sou verdadeiro?” “Como sou corajoso?” “Como sou trágico?” “Como sou politicamente incorreto?”

O problema é que “politicamente incorreto”, na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, “politicamente incorreto”. Quem diz essas coisas é politicamente fascista.

Só que a palavra “fascista”, hoje em dia, virou um termo… politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.

O rótulo “politicamente incorreto” acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, “politicamente correta”) de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.

A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva “de esquerda” que Danilo Gentili resolveu criticar “os velhos de Higienópolis” que não querem metrô perto de casa.

Uma ou outra manifestação de preconceito contra “gente diferenciada”, destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que “elite” são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.

Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.

Judeus em vagões rumo a campo de concentração nazista

Transporte de prisioneiros judeus para campo de extermínio nazista (clique para ampliar)

* Marcelo Coelho é colunista da FSP

* * *

O Chefe de Redação

4 comentários em “A piada cretina e racista de Danilo Gentili, do CQC, contra judeus

  • 17 de julho de 2015 em 14:41
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  • 28 de maio de 2011 em 13:05
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    Penso que, infeizmente, as idiotices repetidas por essas pessoas contra negors e gays e etc… Isso é apenas um reflexo do que se é ouvido nas ruas o tempo todo. São eles, na minha opinião, apenas as pontas de gigantescos iceberg’s. São pessoas observadoras que repetem em um teatro ou palco, aquilo que ouvem e dizem o tempo todo com um público menor. Seria correto pensar que todas essas piadas preconceituosas são criações originais deles? Ou que foram feitas exclusivamente para uma determinada apresentação? Ou será mais, uma representação de uma conduta cultural distorcida e ultrajante? Contudo, é motivo de extrema vergonha para o nosso país que isso ocorra tão naturalmente.

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  • 19 de maio de 2011 em 12:59
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    O Danilo (me desculpe pelo termo) “encagaçou” geral com a repercussão negativa e pediu desculpa. Já o Rafinha Bastos, que se considera mais “deus” que o seu coleguinha de programa, disse literalmente que “mulher feia que é estuprada não tem que reclamar, tem que agradecer”. A grosseria foi reproduzida na entrevista que ele deu para a edição de maio da revista RollingStone. Ele se desculpou às mulheres? Não, continua insistindo na “pertinência” da sua piada e diz que a função do humor é “provocar”. Então tá, vamos combinar: deixa esse idiota dar o azar de passar na minha frente para ele sentir a “provocação” que eu vou enfiar no meio do focinho dele.

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  • 19 de maio de 2011 em 10:16
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    Como alguém disse por aí, precisou o Danilo Gentili mexer com os judeus pra dar toda essa repercussão… enquanto era com negro, gay, mulher etc não dava nada… Mas foi bom por causa da visibilidade que esse canastrão tem entre os mais jovens para que eles percebam que tipo de gente andam idolatrando.

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