Silvia Viana, a socióloga que negou uma entrevista à revista Veja

ESCULACHO NUM PANFLETO REACIONÁRIO

Silvia Viana e Revista Veja

Muita gente concede entrevistas para certos meios de comunicação por dois motivos: para aparecer ou por medo de sofrer futuras retaliações, sob a forma do habitual “assassinato de reputação”.

Esta semana, um fato midiático relevante – com ampla repercussão na internet – mostrou que ainda há gente que não se acovarda diante de veículos fanáticos e reacionários como a revista Veja.

A socióloga Silvia Viana, procurada para uma reportagem sobre o BBB 14, produziu uma resposta que a posteridade vai poder usar como medida do repúdio despertado pela Veja depois que se transformou num panfleto de baixo jornalismo, nos últimos dez anos.

Disse Silvia a quem pedira a entrevista:

“Respondo seu e-mail pelo respeito que tenho por sua profissão, bem como pela compreensão das condições precárias às quais o trabalho do jornalista está submetido.

Contudo, considero a ‘Veja’ uma revista muito mais que tendenciosa, considero-a torpe.

Trata-se de uma publicação que estimula o reacionarismo ressentido, paranoico e feroz que temos visto se alastrar pela sociedade; uma revista que aplaude o estado de exceção permanente, cada vez mais escancarado em nossa “democracia”; uma revista que mente, distorce, inverte, omite, acusa, julga, condena e pune quem não compartilha de suas infâmias – e faz tudo isso descaradamente; por fim, uma revista que desestimula o próprio pensamento ao ignorar a argumentação, baseando suas suposições delirantes em meras ofensas.

Sendo assim, qualquer forma de participação nessa publicação significa a eliminação do debate (nesse caso, nem se poderia falar em empobrecimento do debate, pois na ‘Veja’ a linguagem nasce morta) – e isso ainda que a revista respeitasse a integridade das palavras de seus entrevistados e opositores, coisa que não faz, exceto quando tais palavras já têm a forma do vírus.

Dito isso, minha resposta é: Preferiria não. *

Atenciosamente, Silvia Viana”

Silvia Viana é professora de sociologia da FGV-SP. Graduada em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), possui mestrado e doutorado pela mesma instituição. É autora de Rituais de Sofrimento, pela coleção Estado de Sítio da editora Boitempo.

* A conclusão é uma referência à personagem de Bartleby, o Escrivão, do escritor Herman Melville: “Prefiriria não”.

Um comentário em “Silvia Viana, a socióloga que negou uma entrevista à revista Veja

  • 1 de março de 2014 em 20:04
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    Diante de tantos medrosos que se acovardam e ficam em cima do muro, o exemplo desta professora vale mais que mil elocubrações vazias no intuito de dizer, à maneira do politicamente correto, que não se quer tomar parte na patifaria. Ela foi simples, direta e de uma precisão cirúrgica difícil de se ver hoje em dia, ao negar a entrevista e ainda dar suas razões para tal. Graças a Deus, a personalidade, a dignidade e a honra ainda existem para servirem de exemplo aos mais hesitosos.
    Parabéns, professora Sílvia. É de mestres assim que o Brasil precisa. Aos milhares.

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