Os rappers que repetem a velha mídia a serviço das elites

Cultura Hip-Hop

O 5º ELEMENTO DA CULTURA HIP-HOP

A Cachaça da Happy Hour

Com o avanço da internet, não se pode ter apenas como parâmetro a mídia impressa e a TV. Ouviu sobre um assunto, busque outras opiniões, procure discussões nas redes sociais e, aí sim, tire suas conclusões, pois caso contrário você estará sendo um agente da preservação do ‘status quo’ e o hip-hop jamais se propôs a isso.

O RAP A SERVIÇO DAS ELITES

Por DJ Sadam *

Diversos MCs vêm se prestando ao papel de amplificadores da mídia burguesa, repetindo em suas rimas exatamente o que viram estampado nas páginas do jornal, ou o que ouviram no rádio e assistiram na TV.

Repetem sem procurar saber da veracidade dos fatos, sobre o que está por trás da veiculação das notícias e sem questionar a credibilidade dos órgãos de onde elas vêm.

O MC é um porta-voz da cultura hip-hop. Suas rimas são capazes de influenciar várias pessoas, que talvez as propaguem para outros.

Então, se o sujeito lê uma notícia na capa do jornal de manhã e à noite vê um MC corroborando o que estava escrito, vai pensar: “Tá vendo, até o mano da rima tá confirmando o bagulho que tá no jornal”.

As últimas que presenciei foram de um MC enaltecendo a “faxina ética” no governo, que “tem que usar a vassoura pra varrer aquele que não tem proceder”.

Parece em primeiro plano até que “Porra, Saddam! O cara não está certo?”.

Na boa intenção até que sim, pois todos somos contra a corrupção. Não fosse o machismo deste termo “faxina” – não fosse uma mulher na presidência, duvido que utilizariam este nome – e o fato da tal vassoura remeter aos tempos de Jânio Quadros, que acabaram por levar o país a mais de duas décadas de ditadura militar, até que eu levaria em conta a boa intenção.

A outra foi um MC repetindo a revista Veja e metendo o pau no ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva, que estava sendo denunciado por um coxinha, presidente de ONG, que havia sido denunciado pelo próprio ministério por desvio de verbas.

Ou seja, uma pessoa sem a menor credibilidade, sem apresentar uma única prova – até a data de hoje o tal PM não apresentou as tais “provas irrefutáveis” que disse que tinha -, usando apenas de sua palavra, acusa e faz cair um ministro de Estado, negro, de origem humilde, que transformou um Ministério pífio em um Ministério grande, com investimentos importantes no projeto Segundo Tempo que beneficia milhares de crianças e que agora a grande mídia aproveita para jogar na vala comum todo o terceiro setor, associando patifaria ao termo ONG.

Nós do hip-hop, mais do que ninguém, sabemos da importância do trabalho das ONGs, que chegam onde o Estado não consegue chegar, levando esporte, cultura, saúde e dignidade às quebradas.

Isto não interessa à elite.

Por que bancar um Segundo Tempo se esta grana poderia bancar um torneio internacional de tênis e uma etapa da Fórmula Indy? Por que bancar o Cultura Viva, se poderiam usar esta grana para trazer várias filarmônicas, bancar vários festivais como o Rock in Rio ou rodeios em Barretos?

Por isso que falo: de boa intenção o inferno está cheio.

Desta forma, fica novamente o alerta para que o quinto elemento da cultura hip-hop, o conhecimento, seja levado a sério.

Hoje, com o avanço da internet, não se pode ter apenas como parâmetro a mídia impressa e a TV. Ouviu sobre um assunto, procure outras opiniões, procure discussões nas redes sociais e, aí sim, tire suas conclusões, pois caso contrário você estará sendo um agente da preservação do “status quo” e o hip-hop jamais se propôs a isso.

Um salve e paz a todos.

* Completo na Central Hip-Hop

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