O saca-rolhas metido a besta e a Teoria da Classe Ociosa

SACA-ROLHAS CARO PRA DEDÉU

Do blog BananaPost

Quem não conhece gente miserável que pechincha alguns centavos de desconto no pé de alface numa feira-livre pela manhã, para à tarde ser capaz de abrir a mão e torrar até 410 dólares numa loja de griffe por um simples saca-rolhas da marca Code 38?

Pode-se até alegar que, além de bonito, o treco traz embutidos a lâmina de um canivetinho, um abridor de tampinhas de refrigerantes ou alguma outra buginganga qualquer. Mas peralá, mesmo com design maneiro e materiais de primeira essas quinquilharias não valem o equivalente a quase 700 reais.

Presente chique

Como eu ainda não enlouqueci a ponto de começar a rasgar dinheiro, na eventual falta de um saca-rolhas normal vou apelar, a partir de agora, para o bom e velho sapato a fim de abrir as minhas garrafas de vinho, conforme o francês explica aí no vídeo acima  — não precisa tentar entender, apenas observar para aprender.

Pode não ser lá muito romântico, porém as cinco pancadinhas serão sempre divertidas, surpreendentes e ainda poderão estimular ótimos papos sobre criatividade sem quebrar o clima.

A TEORIA DA CLASSE OCIOSA

A referência ao saca-rolhas mais caro do mundo no blog do Nassif levantou toda uma discussão sociológica super gozada sobre os produtos destinados ao chamado mercado de luxo.

Um comentarista chegou a lembrar da Teoria da Classe Ociosa — que eu não conhecia –, de autoria de Thorstein Veblen, um dos mais importantes economistas do comportamento.

O livro do sujeito foi lançado em 1900, mesmo ano que Sigmund Freud publicou o marco inaugural da Psicanálise, “Interpretação dos Sonhos”. Pelas informações (fáceis de encontrar) na rede, a gente percebe que tanto um quanto outro continuam mais atuais do que nunca.

O objetivo de Veblen, com a sua teoria, foi mostrar que o comportamento ostentatório dos milionários americanos da virada do século XIX não tinha contrapartida com nada anteriormente visto, já que detinham tanto dinheiro que não conseguiam gastar ou ostentar sozinhos, precisando de uma entourage que os acompanhasse e ostentasse a fortuna deles.

Veblen traçou um paralelo desses com os hábitos de tribos primitivas que também avaliavam o poder pela quantidade de riqueza que o líder pudesse apresentar, sendo aí também necessária a aliança com funcionários e aliados para que ostentassem o máximo possível em nome do chefe do grupo.

Isto soa tão familiar que a gente acaba lembrando de ditadores, políticos, bicheiros, traficantes, artistas e até jogadores de futebol, além de badaladas e nababescas festas que os endinheirados em geral costumam promover para perceber que, agora também, em pleno terceiro milênio, as coisas continuam rigorosamente como sempre foram.

O que prova que um saca-rolhas absurdamente caro também é cultura.

* * *

Blog BananaPost - o porta-voz da macacada

2 comentários em “O saca-rolhas metido a besta e a Teoria da Classe Ociosa

  • 16 de maio de 2011 em 23:14
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    Se as pessoas vissem como essas coisas são feitas não pagavam o que é cobrado, igualzinho os automoveis da atualidade. Se alguem soubesse como eles são feitos não “morriam” em 40 mil ou 50 mil neles (os mais baratos) porque não valem nem a metade mesmo com os impostos.

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  • 16 de maio de 2011 em 21:43
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    Posso falar quanto custa um abridor assim, de boa qualidade? De 10 a 15% do valor desse. Somente se justificaria tal preço se a peça fosse confeccionada com uma liga especial, pelo menos na base de Estanho, o que não é o caso. A assinatura de um designer famoso também não é o suficiente para determinar a cobrança de valor tão elevado. Não sou contra um bom desenho mas, nesse caso específico, tudo não passa mesmo é de uma baita fantasia para seduzir deslumbrad@s, para que possam encher a boca e se exibir para @s amig@s. A teoria na prática, neste caso, tem toda a razão.

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