Internet, fuzil com teclas na guerra contra velha mídia

Bandeira do Brasil - Brazil's Flag

Do Blog Chefe de Redação

Raros são os políticos que conseguem utilizar com eficiência a Internet como instrumento de divulgação de ações e ideias. A maioria, ignorante sobre esta nova realidade tecnológica, prefere submeter o discurso fácil àquilo que velha mídia desejar ouvir de suas bocas para alcançar um mínimo de visibilidade nos telejornais ou manchetes de revistas e jornais.

O jovem deputado Brizola Neto foge à inteiramente regra geral e encara o desafio com uma altivez que causa admiração. Em seu blog pessoal encontramos, não apenas a sua ação parlamentar, mas denúncias , propostas e reflexões sobre o Brasil que desejamos para nós e nossos filhos. O texto abaixo é um ótimo exemplo, para além de meras posições ideológicas.

O FIO DA HISTÓRIA NA PONTA DOS NOSSOS DEDOS

Por Brizola Neto *

Deformações ideológicas não se acabam do dia para a noite. Vivemos mais de uma década sob a ditadura do pensamento único, do politicamente correto.

A paixão política passou a ser um defeito – aliás, quase todas as paixões passaram a ser um defeito, um fanatismo. Claro que não se está louvando aqui a irracionalidade, o sectarismo, a imbecilidade.

Mas a história humana é feita de paixão.

Ou será que não foi preciso paixão para os homens que deram a vida nas barricadas da Revolução Francesa, para que aquele país e o mundo pudessem gritar Liberdade, Igualdade, Fraternidade?

Faltou paixão, aqui, aos Henriques Dias, negros, aos Felipes Camarão, índios, para lutarem em Guararapes ao lado do português João Fernandes, fundando o sentimento nacional?

Ou a Tiradentes, para enfrentar o cadafalso? A Getúlio, para a bala no coração?

O neoliberalismo pretendeu reduzir o desejo humano a um negócio, material ou sentimental, que deve trazer vantagens. Era a “lei de mercado” transposta para a existência do ser humano.

Um verso de uma música dos Titãs, fora do contexto, servia de “hino” desta anulação da paixão: “eu só quero saber do pode dar certo, não tenho tempo a perder”.

A história das lutas sociais, das lutas que ao longo de milhares de anos, homens e mulheres de todas as partes do globo terrestre fizeram em busca da liberdade, da justiça, da dignidade não importava muito. Era tempo perdido. Era o passado, e o passado, passou. Era “o fim da história” do tal Francis Fukuyama, aquele historiador a quem a história já quase esqueceu, proclamava, sob o aplauso dos medíocres.

Virou algo arcaico, jurássico, anacrônico ter paixão pelo Brasil e pelo povo brasileiro.

Importante era ser certinho, arrumadinho, preparadinho”e fazer “o dever de casa” direitinho, como os nossos comentaristas políticos e econômicos pregavam nos jornais e na televisão. Nenhuma atenção era dada a que este “dever de casa” vinha de professores de fora, que queriam ensinar-nos a ser como convinha a eles, não a nós mesmos.

Mas a história não acabou.

A realidade, o processo social, retomou, com suas voltas caprichosas e tantas vezes incríveis, o fio desta história.

Lula, o sindicalista que surgiu condenando Vargas, virou o estadista que repetiu seu gesto de banhar de petróleo sua mão e, mais ainda, praticou uma política de composição, tolerância e alianças como a do velho Getúlio, a quem chamavam de “pai dos pobres e mãe dos ricos”.

Embora os pobres tenham ganho muito no Governo Lula, a verdade é que os ricos não perderam, não é? Está aí o lucro dos bancos que não nos deixa enganados.

Apesar disso, porém, como a Getúlio, a Jango, a Brizola, os ricos o odeiam. Odeiam não apenas porque ele vem da pobreza. Odeiam porque ele não a abandonou, não lhe virou as costas. As elites brasileiras só admitem a entrada dos pobres nos seus salões se for para servir-lhes obsequiosamente, como mucamas ou garçons.

A história seguiu e o povo brasileiro viu, com Lula, que podia dirigir seu país. Viu mais: que este país, invadido economica, cultural e politicamente pelos “monitores” daqueles professores que lhe cobravam, ferozes, “o dever de casa”, não precisava ser como lhe diziam que deveria ser.

Vemos com tristeza muitos homens e mulheres das gerações mais velhas tornarem-se tíbios, medrosos, a encherem de vírgulas e concessões o que dizem, para deixar aceitáveis pela ditadura da mídia a verdade que já não sabem dizer de forma aguda e cortante.

Falta-lhes já a pureza e a sinceridade do menino que, na praça cheia, rasgou o véu do temor e da conivência gritando que o rei estava nu.

Com mais tristeza ainda vemos outros, que eram jovens abandeirados de paixões e amor a este povo, se converterem em instrumentos de seus algozes, com a pífia desculpa de que os tempos são outros, quase a dizer que aquele mundo de opressão e dominação acabou.

Talvez tenha acabado, sim, mas só para eles, não para as imensas massas humanas a que um dia disseram servir.

Não são todos, talvez não sejam sequer muitos, mas foi a eles que o sistema deu luz e notoriedade e fez aos outros temer não serem aceitos, acolhidos, amados, porque teimavam em ser, mesmo que por dentro e silenciosamente, o que eram.

Que lindas as supresas da história, porém.

Dos frangalhos de Brasil que a ditadura e depois, a mediocridade e o entreguismo dos governos neoliberais nos deixaram, rebrotamos como nos versos de Neruda, sobre a Espanha destruída pela barbárie franquista: “mas de cada buraco da Espanha, sai Espanha, e de cada criança morta nasce um fuzil com olhos”.

Pois correndo o risco de paracer primário, poderíamos dizer que sai agora um fuzil com teclas. Esta nova “arma”, a internet, foi posta à prova, nestas semanas, em rápidas escaramuças: o clipe serrista da Globo e as manipulações difamatórias dos tucanos.

Os tanques pesados da grande mídia continuam rolando, potentíssimos. Mas nós já podemos fustigá-los e fazer recuar.

Nós, os que estamos ainda no começo da caminhada, que temos o coração em chamas pelo Brasil, precisamos muito dos corações que nunca deixaram esta brasa apaixonada se apagar. Precisamos de sua sabedoria e de sua coragem, que certamente é maior que a nossa, pois já passou por batalhas mais longas e mais duras.

Somos soldados deste combate pelo povo brasileiro. Precisamos de comandantes que nos ajudem a lutar e vencer. A paixão e o amor não nos faltam.

Então, quem sabe juntos, poderemos soprar as brasas que se reduziram pela descrença, pelas decepções, pelas derrotas e, finalmente, em nome de milhões de nossos irmãos que nada têm de rico, senão a esperança, em nome de um país que não quer mais viver na barbárie de uma condição colonial, possamos enfim dar ao Brasil o destino próprio que uma nação e um povo como o nosso merecem.

* Publicado originalmente no blog Tijolaço, do deputado Brizola Neto, do PDT/RJ

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Blog Chefe de Redação

2 comentários em “Internet, fuzil com teclas na guerra contra velha mídia

  • 18 de julho de 2010 em 19:22
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    Esse menino é o novo fenômeno da blogosfera. Muitíssimo competente e bem assessorado. É o político que melhor entendeu as funcionalidades e a penetração dessa plataforma. Dá um “tijolaço” na concorrência, que ainda utiliza ferramentas de divulgação de idéias dos tempos da pedra lascada. Enquanto a maioria ainda se comunica por sinais de fumaça e batuques de tã-tã, o garotão aí dispara na frente para ocupar espaços na internet. É um campeão, de berço.

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  • 18 de julho de 2010 em 10:36
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    Como classificar esse texto magnífico? Libelo à brasilidade!
    Parabéns ao promissor deputado, a você Nívia, que reblogou e a todos os que certamente vão repassar. Saudações verde-e-amarelas!

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