Desempregados e sem-teto são ‘condenados’ a limpar usina nuclear

JAPONESES LANÇAM SEU BOLSA-FUKUSHIMA

Contaminação nuclear

Não é segredo para ninguém que muitas guerras sempre foram usadas providencialmente como campos de extermínio, não dos inimigos, mas dos soldados enviados a combate por seu próprio país.

Não são poucas as evidências – com testemunhos – da limpeza étnico-social, inclusive sob fogo amigo, que teria sido promovida entre as tropas norte-americanas durante as guerras do Vietnã e do Iraque.

Desconsiderando uma minoria de filhos de famílias da classe média, ocupando postos de comando, o grosso da tropa rasa costuma ser formado por batalhões de indivíduos considerados “despreparados”.

São, em geral, elementos com baixa escolaridade, moradores de periferias, excluídos, desempregados, contestadores ideológicos ou outros indesejados por qualquer motivo. É a chamada bucha de canhão.

Definitivamente, situações que impliquem em altíssimo risco de vida não são coisa para os coxinhas da tradicional sociedade estadunidense. E de outras também – ou essa estratégia não foi copiada?

Usinas nucleares

SENTENÇA DE MORTE ANTECIPADA

Agora mesmo, no dia em que o ano se despedia, do outro lado do mundo vinha esta bomba atômica: autoridades japonesas começaram a recrutar desempregados e sem-teto para os trabalhos de limpeza da usina nuclear de Fukushima, destruída pelo terremoto seguido de tsunami, em março de 2011.

Será montada uma operação de guerra com milhares de trabalhadores para “higienizar” os vestígios radioativos da catástrofe, numa tarefa que se estima durar uns 30 anos, no mínimo.

Ou seja, pelos critérios seletivos da elite conservadora nipônica, os que menos podem e os que menos têm devem ser enviados para a linha da frente do próprio inferno aqui na Terra.

Essas pessoas estarão sujeitas a níveis de radiação que nenhum ser humano poderá aguentar sem danos, o que equivale a uma sentença de morte antecipada, já que esses contratos de trabalho – ao contrário de outros no Japão – nem seguro de saúde incluem.

O governo, segundo denúncias de agências internacionais, tenta esconder que empreiteiros mafiosos, com o suporte de organizações criminosas (leia-se Yakuza) estão recrutando os sem-teto por baixíssima remuneração para botar alguma ordem na bagunça radioativa.

Fukushima - maior contaminação do mar na história

O TAL ‘CAPITAL HUMANO’

Sabemos bem que o capitalismo precisa do desemprego estrutural e de uma larga base de destituídos para poder continuar a fazer o que melhor sabe: aumentar a riqueza de alguns ao mesmo tempo que reduz os direitos, baixa salários e procura anular a capacidade reivindicativa da maioria.

Mas o que é que acontece quando esta reserva é usada para mais do que isso? Que leis podem reger o recurso aos que nada ou quase nada têm para ir muito além da chantagem do mercado?

O que se passa no Japão é a face visível de um fenômeno que mina as sociedades capitalistas predadoras – modelo defendido aqui, com unhas e dentes, pelos veículos da velha mídia.

Prosseguir na luta, hoje, por trabalho com direitos é determinante para pensar que o futuro pode ser outra coisa que não este inferno.

O inferno que permite que do alto haja sempre quem diga: “Não está satisfeito? Vá então caçar outro rumo, que há muita gente lá fora querendo este trabalho”.

Infelizmente, o regime neoliberal que comanda os destinos do Japão não é apenas conivente, como promove estas novas e abjetas formas de exploração e de escravidão humana.

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