Casualidade: cada pessoa percebe o tempo de forma diferente

Relógio do tempo

COMO PREVER O FUTURO?

Quem nunca teve a sensação de que aquilo que para você leva uma eternidade, para outra pessoa parece acontecer em apenas alguns segundos? Algo como se o tempo fosse diferente para ambas.

Pois bem, uma pesquisa divulgada no jornal Psychological Science, da Association for Psychological Science, sugere que ligações entre as percepções de tempo de duas pessoas diferentes podem esconder indícios de como nós vivenciamos o tempo.

O estudo mostrou que quando pensamos em um evento como uma causa, se ele leva mais tempo para acontecer, pensamos em um segundo evento como uma consequência, se ele for mais rápido.

Parece complicado, mas não é não: é que nossa mente combina os eventos casualmente relacionados. E como ocorre esta “ligação temporal” (nome dado pelos cientistas a esta relação)?

Alguns acham que nós ligamos um evento a outro se acharmos que eles são resultantes de alguma ação intencional, e isto seria uma consequência da nossa habilidade de ligar ações às suas consequências.

Já o cientista Marc Buehner, da Universidade de Cardiff, na Inglaterra, considerou a possibilidade da ligação temporal estar relacionada a uma capacidade mais genérica de compreender relações causais.

Tempo que passa

Segundo ele, se dois acontecimentos são próximos, cronologicamente falando, as pessoas terão chances maiores de ver neles uma relação casual.

E o inverso também seria verdadeiro: se as pessoas sabem que dois acontecimentos são casualmente relacionados, elas esperam que eles sejam próximos no tempo.

“A percepção do tempo é incerta, por isso faz todo o sentido que existam essas tendências sistemáticas na forma de ligações temporais, o que sugere que elas sejam um fenômeno geral em que a ação intencional é apenas um caso especial”, diz Marc.

Para testar e entender as duas possibilidades, Marc conduziu duas experiências utilizando um paradigma de antecipação de eventos.

Os participantes deveriam prever quando uma luz ia piscar. Na condição de base, a piscada de luz era precedida por um sinal luminoso. Na condição de autocasualidade, os participantes apertavam o botão para gerar a piscada, e na condição de casualidade com máquinas, uma máquina separada aperta o botão para gerar a piscada.

De acordo com a hipótese da ligação casual, os participantes das duas últimas condições deveriam antecipar a piscada mais rápido do que os da condição de base.

O tempo voando

Segundo a teoria da ligação intencional, somente os participantes da autocasualidade demonstrariam antecipação precoce.

O resultado foi que as previsões da condição de base foram bem mais atrasadas em relação às da autocasualidade e casualidade com máquinas, sendo que nestes dois últimos grupos, as diferenças de tempo foram mínimas.

Os resultados apontam que a intencionalidade não é uma condição primordial para que ocorra a ligação temporal, confirmando a hipótese de Buehner.

“Compreender o passado nos deu condições de prever o futuro”, diz Buehner. Ou seja, se tivermos uma história casual sobre o por quê das coisas estarem acontecendo, teremos melhores condições de prever o futuro, conforme o professor explicou.

E qual seria a utilidade prática de tal descoberta?

Engenheiros de usabilidade e designers de interface sabem muito bem a resposta, pois, segundo Marc, a percepção dos tempos de espera e atrasos está se tornando cada vez mais importantes.

“Aqui nós podemos mostrar o quanto essas percepções são sujeitas a distorções sistemáticas, dependendo de como as pessoas enxergam a casualidade”, finaliza Marc.

Com Jornal Ciência

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