A chuva, a Fórmula Indy e os demais vexames de São Paulo

Trânsito com chuva em São Paulo

GALVÃO BUENO X LUCIANO DO VALLE

Do HotGaragem blog

Se na Fórmula 1 é a Globo quem coloca em risco os tímpanos dos telespectadores a uma velocidade de 346 asneiras por hora repetidas pelo Galvão Bueno, na Fórmula Indy encharcada de São Paulo é a Band, pilotada por um bando de marqueteiros sem habilitação, quem ameaça a integridade mental dos incautos que se aventuram em atravessar a pista televisiva durante esse tipo de transmissão “esportiva”.

FIO DA NAVALHA

Por Flavio Gomes *

O problema de se fazer uma corrida de rua numa cidade inviável como São Paulo é esse. Qualquer probleminha vira uma merda do tamanho do mundo.

OK, choveu. Mas não choveu tanto assim. Forte, mesmo, uns 20 minutos. Meia hora, talvez. Eu estava lá com meus dois moleques, no camarote da Prefeitura, a convite de um amigo que trabalha com o prefeito. Fui embora às 14h30 com chuva bem fraca, sabendo que daquele mato não sairia mais nenhum cachorro.

Eram mais de 17h quando resolveram suspender tudo. Ou seja: mais de duas horas de chuva fraca não foram suficientes para que a pista, alagada, “desalagasse”. Existe “desalagar”? OK, vamos mudar: mais de duas horas não foram suficientes para que a água escoasse, para que as poças sumissem.

E por quê? Porque a pista fica em São Paulo, foi construída sob os mais rígidos conceitos paulistanos de engenharia. Conceitos que fazem com que cinco minutos de chuva sejam suficientes para alagar tudo, para formar enormes poças, entupir bueiros e acabar com a paciência de quem vive aqui. A água, no asfalto paulistano, simplesmente não escoa. Não escoa porque as avenidas são mal construídas, o que explica as poças no meio de seu leito de rodagem. Porque é cascata que o asfalto é igual ao de Interlagos, que seca rapidinho. Porque é cascata que as obras de drenagem que o prefeito diz ter feito existam de verdade. O prefeito, há meses, só pensa no partido que fundou, não na cidade que afundou.

São Paulo, em resumo, não é lugar para corrida de rua. Não enquanto for uma cidade tão vulnerável a qualquer desarranjo meteorológico, a qualquer caminhão tombado, a qualquer manifestação de massa.

Mas a corrida existe desde o ano passado — foi boa, inclusive, embora tudo tenha sido feito às pressas, meio nas coxas —, deve ter dado dinheiro para alguns, e não se pode negar que todos os envolvidos se esforçam para que as coisas deem certo. Só que é tudo muito no fio da navalha. Em 2010, todos lembram do ridículo que foi o piso pintado no Sambódromo, que faziam os carros sambarem. A chuva também atrapalhou, mas no fim das contas deu para fazer a prova. Porém, é um risco grande demais ficar torcendo para que nada de errado aconteça. Está provado que chuva, nesta cidade, tem os efeitos de um tornado nos EUA ou de um tsunami no Japão. Assim, é preciso pensar na chuva. E não é fazendo festinha de revista de celebridades que os organizadores vão conseguir realizar uma corrida de verdade.

Esse é outro grave problema da Indy em São Paulo. É um evento promovido por um grupo de comunicação, a Bandeirantes, que assim como os demais sócios na organização o trata como um acontecimento social, não como um evento de um esporte de risco. Todo o esforço que deveria ser empreendido no sentido de viabilizá-lo tecnicamente é desperdiçado com futilidades — como levar um inacreditável cantor adolescente para interpretar o Hino Nacional como se estivesse numa arena de rodeio no interior de Goiás; me disseram que é bem famoso e que seu cachê para rebolar e ser vaiado pelo pessoal na arquibancada não deve ter sido barato.

Na TV e nas emissoras de rádio da Bandeirantes não há críticas, a corrida é uma festa, um evento impecável que “para São Paulo”, “importantíssimo para a cidade” e tal. Uma tremenda xaropada. O papel de imprensa, que deveria ser primordial numa empresa de comunicação, é trocado pelo de promotor. E aí é um festival de boçalidades no ar que irrita qualquer monge.

Corrida da Indy em São Paulo

* O principal do post do Flavio Gomes chegou até aqui. Quem quiser ler o restinho, divirta-se.

* * *

Blog Hot Garagem

2 comentários em “A chuva, a Fórmula Indy e os demais vexames de São Paulo

  • 1 de maio de 2011 em 21:07
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    eu tb num acreditei quando ouvi aquele hino nacional… que pobreza…

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  • 1 de maio de 2011 em 20:48
    Permalink

    Não era nem para ter sido dada a primeira largada. Depois é que ficamos sabendo da pressão da Band nos bastidores para forçar a realização da corrida de qualquer jeito no dia de hoje por causa dos seus interesses comerciais. Aí quero ver se o Boris Casoy, âncora da emissora, é macho pra dizer que ISTO É UMA VERGONHA!!!

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